sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Olá Chefe, desculpe, mas não posso aceitar!

Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Olá Chefe, desculpe, mas não posso aceitar!

                      Obrigado pelo convite. Sei que ele é sincero. Olhe eu tenho pensado sobre isso. Eu já fui escoteiro agora não mais. Tenho pensado em voltar, mas confesso que estou em dúvida. Sabe Chefe, eu tinha um caderno que meu pai comprou. Um lindo caderno Chefe. E a capa? Irresistível. Muitos escoteiros em uma montanha, com uma bandeira do Brasil desfraldada. Era incrível Chefe. Nunca tinha visto nada igual. Pensei logo em ser um deles. Já pensou? Eu com aquele lindo uniforme, com aquele chapéu “bacana”, correndo pelas campinas com a minha querida bandeira do Brasil desfraldada ao vento? Pois é Chefe seria demais.

                     Pensava e sonhava com grandes aventuras chefe. Dormir em uma barraca, acampar em uma floresta desconhecida, ouvir o cantar da passarada, tomar um banho gelado na cascata, pescar... Chefe eu queria mesmo estar lá. Não sou um sonhador, mas adoro o vento as estrelas, o cheiro da terra molhada coisa que na minha cidade não tem. E então Chefe eu ia sorrir, gritar e cantar com minha Patrulha, e sabe mais? Eu ia usar a minha machadinha que iria comprar, queria mesmo construir belas construções belas pioneirías. Queria com meus amigos fazer um jogo cheio de aventuras, quem sabe a busca do Tesouro?

                     Sabe Chefe uma vez eu e meus amigos fomos até o morro do Papagaio procurar um tesouro escondido há muitos e muitos anos na gruta do Pirata. Foi lá Chefe, ao entardecer, um dos meus amigos que fora escoteiro me contou que a noite eles acendem uma fogueira, cantam, riem e que no céu sabem de cor todas as constelações. Quando ele dizia isso eu vibrava. Mas Chefe não foi isso que encontrei. Não foi mesmo. Pedi ao meu Pai para me levar lá. Foi triste. Nem apresentado aos outros eu fui. “Jogaram-me” em uma Patrulha. Não fui bem recebido. E na reunião só o chefe falava. O tempo todo o "Chefe" Escoteiro dizendo, faça isso faça aquilo.

                    Chefe um dia me levaram sem me perguntar se queria ir até a praça para fazer limpeza, o mesmo na beira do rio, em ruas esburacadas e até mesmo plantar. Até aí tudo bem. Amo as arvores. Acampamento Chefe? Uma vez por ano e olhe lá. Disseram-me que eu poderia comprar o uniforme. Caro, meu pai pediu para aguardar. E aí Chefe me venderam uma camiseta e um lenço. – Pode usar disse o Chefe. E olhe eu nem tinha feito minha promessa. Mas eu queria o chapéu, aquela calça e camisa escoteira, o cinto de couro. Chefe era isso que eu tinha sonhado e não uma camiseta.

                    Olhe Chefe eu queria aprender os sinais que tanto me contaram e deles fiz uma fantasia. Queria fazer ou seguir uma pista em campo aberto, saltar obstáculos, enganar meus seguidores com um caminho a evitar. Eu queria Chefe aprender como ver a altura de uma montanha, de uma árvore, eu queria Chefe ter uma bússola na mão para ver no mapa qual o caminho tomar. Eu queria aprender os nós de descer das árvores, de tirar pessoas do buraco, queria Chefe aprender a usar o facão, a armar sozinho a barraca, cozinhar, mas veja o Monitor não deixava. Era ele quem sabia fazer tudo ou quando o "Chefe" Escoteiro estava junto era ele quem fazia.

                    Sabe Chefe, eu esperei. Esperei meses. Minha Patrulha só diminuindo. Um dia vi que até o Sub Monitor não veio mais. Era eu dois novatos e o Monitor mandão. Pensei em seguir o mesmo caminho, mas ainda acreditava que parte do meu sonho podia acontecer. Queria meu uniforme, minha promessa, a especialidade de acampador. Eu queria Chefe ter um cordão de eficiência, e se o Monitor e o Chefe ajudasse eu seria um Escoteiro Lis de Ouro. São tão poucos no Brasil não é Chefe? Mas eis que chegou o grande dia. Era o acampamento. Chefe e meus sonhos?

                   Não foi o que pensei Chefe. Armamos a barraca com o Chefe ao lado dizendo como fazer. O primeiro almoço foi de “quentinhas” que um pai trouxe. E a tarde Chefe? Quase dormi para chegar minha hora de atravessar uma corda esticada. Pensei que seria um “Comando Crow”, mas não passou nem perto. Pioneirías? Nem pensar. O Chefe só falava que não podia cortar arvores, e até a moita de bambu tinha de ser preservada. Uma decepção Chefe o acampamento. A maior parte do trabalho de campo era os pais que faziam. O que eles estavam fazendo lá Chefe?  

                  Não posso reclamar de tudo. Teve um jogo de “lama” com todo mundo enlameado que gostei. Os outros jogos foi os que fazíamos na sede. Pois é Chefe, ali no campo, tantas árvores, um regato cantando nas pedras lisas, pássaros a granel para a gente fotograr. Até uma coruja eu vi em um carvalho que com a gritaria e os apitos do Chefe ela se foi. Eu queria que o Chefe perguntasse no final o que achamos, mas ele não perguntou. Ele nunca nos consultou. Ele e o Monitor eram o dono da bola, do jogo e quando queriam pegavam a bola como a dizer “Game Over”.

                      Obrigado Chefe, sei que o convite é sincero. Mas agradeço. Não dá mais. Até hoje meus amigos de turma do bairro dão risadas quando falamos em voltar a ser escoteiros. Eles dizem que seus programas são melhores e quem sabe são mesmos. Sabe Chefe eu o Tonho, o Zeca, o Betinho e o Zezé estamos juntos com a turma da rua há muitos anos. Só o Neném saiu, pois foi embora da cidade. E sabe Chefe, lá não tem chefes, somos nós que decidimos. Chefe, até pensei que quando crescer vou ser um Chefe Escoteiro, mas diferente, serei aquele que ouvi mais que fala. Que escolhe bem os monitores e os ensine que na Patrulha também tem gente.

                       Quando for um Chefe chegar um candidato, serei franco, direi a ele que quero ouvir sempre sua opinião. Direi a ele e aos demais que agora vamos fazer realizar seus sonhos. Que somos um equipe, “um por todos, todos por um”. Vou mostrar a eles a capa do meu caderno e dizer: Podem sorrir turma, agora é para valer! Segurem nossa bandeira, desfraldem-na contra o vento, pois vamos para o nosso acampamento e lá vamos viver mil aventuras!


                    Obrigado mesmo Chefe, desejo tudo de bom para o senhor. Acredito que outros meninos vão aceitar seu convite, mas eu chefe não posso. Infelizmente são diferentes dos meus sonhos e olhe não fique triste, desejo ao senhor e a todos que fazem do escotismo sua maneira de viver que sejam felizes, que o sucesso seja completo nas atividades que fizeram. E olhe Chefe, Sempre Alerta, até outra vez!

Nota de rodapé: - Um amigo escreveu para os chefes que quiserem aprender a fazer escotismo: Leia B-P, estude B-P e aplique B-P. Ele sabe o que diz, afinal foi quem criou o Movimento escoteiro. Leiam esta pérola dele: - Se lhe tivéssemos chamado o que ele era, a saber, “Sociedade para a Propagação das Qualidades Morais”, o rapaz não se teria propriamente precipitado para aderir. Mas chamar-lhe escotismo e dar ao rapaz a oportunidade de se tornar um explorador em embrião, foi algo completamente diferente.