domingo, 5 de novembro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Modismo, autoritarismo e o escambal.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Modismo, autoritarismo e o escambal.

                       As definições para Modismo são várias, na maioria das traduções significa “Aquilo que está na moda”, ou consumo tendencioso e igualitário ou mesmo “Comprar e usar aquilo que os outros estão usando”. Estamos vivendo no Escotismo nacional uma fase de “Modismo”. Certo ou errado parece que ele veio para ficar. Passamos a copiar o que fazem países de primeiro mundo e sem ver se os resultados são satisfatórios. Aceitamos já que nossa disciplina é exigida de maneira totalitária e quase não nos dá o direito de sugerir aprovar ou discordar.

                       O mundo moderno através dos meios de comunicação vem mostrando novas ideias, comportamento e uma tecnologia avançada que nos deixa pasmados com o que aparece para nosso bem estar pessoal. Quem sabe muito do que vem acontecendo pode ser para melhor. No entanto, ainda não temos exemplos de resultados satisfatórios. No escotismo uma maioria silenciosa prefere não opinar. O mote de que o importante são as crianças permanece. Tentam quebrar tabu onde a maioria ainda é presa a preceitos que sempre acreditou.

                       Comenta-se que nossa Promessa deve ser alterada para salvaguardar interesses dos que discordam, dos que são agnósticos ou que professam outros credos que não o cristianismo. Às vezes eu me pergunto: - Quantos são? São tantos assim? Sem desmerecer os interesses destes que desejam ser escoteiros devemos mudar para dar vez a estes interessados? Pelo sim pelo não será que também deveremos mudar nossos métodos, nossas crenças, pois muito do que Baden-Powell nos deixou já foram substituídos por outros de pedagogos e pensadores modernos?

                       Sem afirmar se os resultados serão ou não satisfatórios, temos hoje liberdade restrita dentro de normas impostas por poucos. Nossa apresentação pessoal e nosso exemplo é moderno, basta ver as apresentações em público, em cursos, em atividades nacionais ou mesmo sociais onde se usa a moderna vestimenta a bel prazer de sua escolha pessoal. Por falta de uma pesquisa junto à comunidade não sabemos se ela é bem vista e aceita. Exemplificar o saudosismo de uma época seria uma forma em afirmar que tivemos por longo tempo reconhecimento de nossa apresentação pessoal e de nossa metodologia conhecida da sociedade da época.

                     Um pensador famoso dizia que tudo tem seu tempo e sua hora, será que isto se aplica ao Escotismo atual? Se no passado ou mesmo em diversos países tivemos homens famosos que alardearam seu orgulho de sua promessa escoteira o mesmo não acontece em nosso país nos dias de hoje. Passamos por uma escala vergonhosa de políticos sem caráter, de altos dirigentes empresariais tentando subverter a seu soldo seus interesses pessoais ou corporativos. E nosso escotismo? Onde se apresenta nesta sociedade permissiva seus deveres para com Deus e a Pátria?

                      Entra ano após ano, novas eleições se fazem realizar na estrutura escoteira nacional. Promessas são feitas, valores são exaltados dos prováveis candidatos. Cada caso é um caso, mas diferente do que foi prometido nada muda, tudo permanece para exaltação dos eleitos que pomposamente se esquecem de que estão ali para servir e não ser servido. Nossa democracia é paupérrima na sua forma escoteira e aceitamos muitas vezes calados achando que o caminho para o sucesso que BP sempre recomendou poderia ter outra maneira de agir e pensar.                                

                      Estamos passando por momentos não só das discussões do “Modismo” como também o autoritarismo. Se você não concorda pode ser admoestado verbalmente ou então o que uma região escoteira de um estado vem fazendo: - “Uma Interpelação extra Judicial”. Seria esta a melhor maneira de exigir disciplina? O mote frequente de dizer que se não concorda vá a Assembleia se tornou uma piada nacional. Os arredios, os simples, os retraídos ou mesmo os mais introvertidos ali nunca teriam vez. Votar e ser votado para um membro associado é uma utopia quase impossível de ser realizada.

                      Vemos nas unidades locais onde se faz o escotismo, onde os jovens tem seu caminho programado conforme a metodologia direcionada por uma associação onde associados nunca são consultados, uma exaltação de ser um Velho Lobo, da sede do poder e ser o melhor e muitas vezes esquecendo o verdadeiro objetivo de Baden-Powell em formar uma grande fraternidade, onde uma lei e uma promessa iria prevalecer por todos que simpatizassem pela causa escoteira. A admoestação, o aviso, até mesmo aqueles que falam baixinho para não serem ouvidos surgiu agora a tal interpelação extrajudicial. Uma forma de tentar calar os que são contrários à ideia do líder regional ou nacional.

                     Se nas hostes escoteiras isto vem acontecendo porque não dizer que fora dela também? Quantos foram interpelados por não concordarem com os rumos do escotismo moderno mesmo não sendo mais um associado? Que direito tem um dirigente de interpelar judicialmente alguém que discorda ou sugere nova forma de pensar ou mesmo no que acredita ser melhor para o desenvolvimento do Escotismo Nacional? Porque está forma arbitrária de tentar calar vozes ou pensamentos contrários se ainda nem sequer provou que seu sistema é o melhor e com resultados importantes no escotismo nacional? Onde foi parar o diálogo?


                     Escotismo não tem donos. BP nunca disse que deu procuração para falar em seu nome. Se alguns poucos se julgam proprietários de ações ordinárias ou preferenciais do movimento escoteiro estão completamente enganados. Ainda existe o direito de falar e pensar no que acredita. Interpelação extrajudicial é uma forma autocrática e autoritária que não coaduna com os princípios escoteiros da Lei e da Promessa. Encerro por aqui. A todos mesmo aqueles que estão no poder, meu fraterno abraço por que meu coração é aberto não importa sua escala social ou hierárquica escoteira.                 

Nota de Rodapé: - “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Não é a terra que constitui a riqueza das nações, e ninguém se convence de que a educação não tem preço. Eu não substituo a fé pela superstição, à realidade pelo ídolo. O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver”. Rui Barbosa.