Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Modismo,
autoritarismo e o escambal.
As definições para Modismo são várias, na
maioria das traduções significa “Aquilo que está na moda”, ou consumo
tendencioso e igualitário ou mesmo “Comprar e usar aquilo que os outros estão
usando”. Estamos vivendo no Escotismo nacional uma fase de “Modismo”. Certo ou
errado parece que ele veio para ficar. Passamos a copiar o que fazem países de
primeiro mundo e sem ver se os resultados são satisfatórios. Aceitamos já que
nossa disciplina é exigida de maneira totalitária e quase não nos dá o direito
de sugerir aprovar ou discordar.
O mundo moderno através
dos meios de comunicação vem mostrando novas ideias, comportamento e uma tecnologia
avançada que nos deixa pasmados com o que aparece para nosso bem estar pessoal.
Quem sabe muito do que vem acontecendo pode ser para melhor. No entanto, ainda
não temos exemplos de resultados satisfatórios. No escotismo uma maioria silenciosa
prefere não opinar. O mote de que o importante são as crianças permanece.
Tentam quebrar tabu onde a maioria ainda é presa a preceitos que sempre acreditou.
Comenta-se que nossa
Promessa deve ser alterada para salvaguardar interesses dos que discordam, dos
que são agnósticos ou que professam outros credos que não o cristianismo. Às
vezes eu me pergunto: - Quantos são? São tantos assim? Sem desmerecer os
interesses destes que desejam ser escoteiros devemos mudar para dar vez a estes
interessados? Pelo sim pelo não será que também deveremos mudar nossos métodos,
nossas crenças, pois muito do que Baden-Powell nos deixou já foram substituídos
por outros de pedagogos e pensadores modernos?
Sem afirmar se os
resultados serão ou não satisfatórios, temos hoje liberdade restrita dentro de
normas impostas por poucos. Nossa apresentação pessoal e nosso exemplo é moderno,
basta ver as apresentações em público, em cursos, em atividades nacionais ou
mesmo sociais onde se usa a moderna vestimenta a bel prazer de sua escolha
pessoal. Por falta de uma pesquisa junto à comunidade não sabemos se ela é bem
vista e aceita. Exemplificar o saudosismo de uma época seria uma forma em afirmar
que tivemos por longo tempo reconhecimento de nossa apresentação pessoal e de
nossa metodologia conhecida da sociedade da época.
Um pensador famoso dizia
que tudo tem seu tempo e sua hora, será que isto se aplica ao Escotismo atual?
Se no passado ou mesmo em diversos países tivemos homens famosos que alardearam
seu orgulho de sua promessa escoteira o mesmo não acontece em nosso país nos
dias de hoje. Passamos por uma escala vergonhosa de políticos sem caráter, de
altos dirigentes empresariais tentando subverter a seu soldo seus interesses
pessoais ou corporativos. E nosso escotismo? Onde se apresenta nesta sociedade
permissiva seus deveres para com Deus e a Pátria?
Entra ano após ano, novas eleições se fazem
realizar na estrutura escoteira nacional. Promessas são feitas, valores são
exaltados dos prováveis candidatos. Cada caso é um caso, mas diferente do que
foi prometido nada muda, tudo permanece para exaltação dos eleitos que
pomposamente se esquecem de que estão ali para servir e não ser servido. Nossa democracia
é paupérrima na sua forma escoteira e aceitamos muitas vezes calados achando
que o caminho para o sucesso que BP sempre recomendou poderia ter outra maneira
de agir e pensar.
Estamos passando por
momentos não só das discussões do “Modismo” como também o autoritarismo. Se você
não concorda pode ser admoestado verbalmente ou então o que uma região
escoteira de um estado vem fazendo: - “Uma Interpelação extra Judicial”. Seria
esta a melhor maneira de exigir disciplina? O mote frequente de dizer que se
não concorda vá a Assembleia se tornou uma piada nacional. Os arredios, os simples,
os retraídos ou mesmo os mais introvertidos ali nunca teriam vez. Votar e ser
votado para um membro associado é uma utopia quase impossível de ser realizada.
Vemos nas unidades locais
onde se faz o escotismo, onde os jovens tem seu caminho programado conforme a
metodologia direcionada por uma associação onde associados nunca são consultados,
uma exaltação de ser um Velho Lobo, da sede do poder e ser o melhor e muitas
vezes esquecendo o verdadeiro objetivo de Baden-Powell em formar uma grande
fraternidade, onde uma lei e uma promessa iria prevalecer por todos que
simpatizassem pela causa escoteira. A admoestação, o aviso, até mesmo aqueles
que falam baixinho para não serem ouvidos surgiu agora a tal interpelação extrajudicial.
Uma forma de tentar calar os que são contrários à ideia do líder regional ou nacional.
Se nas hostes escoteiras
isto vem acontecendo porque não dizer que fora dela também? Quantos foram
interpelados por não concordarem com os rumos do escotismo moderno mesmo não
sendo mais um associado? Que direito tem um dirigente de interpelar
judicialmente alguém que discorda ou sugere nova forma de pensar ou mesmo no
que acredita ser melhor para o desenvolvimento do Escotismo Nacional? Porque
está forma arbitrária de tentar calar vozes ou pensamentos contrários se ainda
nem sequer provou que seu sistema é o melhor e com resultados importantes no
escotismo nacional? Onde foi parar o diálogo?
Escotismo não tem donos. BP nunca disse que
deu procuração para falar em seu nome. Se alguns poucos se julgam proprietários
de ações ordinárias ou preferenciais do movimento escoteiro estão completamente
enganados. Ainda existe o direito de falar e pensar no que acredita. Interpelação
extrajudicial é uma forma autocrática e autoritária que não coaduna com os princípios
escoteiros da Lei e da Promessa. Encerro por aqui. A todos mesmo aqueles que
estão no poder, meu fraterno abraço por que meu coração é aberto não importa
sua escala social ou hierárquica escoteira.
Nota de Rodapé: - “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o
direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Não é a
terra que constitui a riqueza das nações, e ninguém se convence de que a
educação não tem preço. Eu não substituo a fé pela superstição, à
realidade pelo ídolo. O homem que não luta pelos seus direitos não
merece viver”. Rui Barbosa.