Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Os donos do
poder II.
Displicentemente perguntei a um amigo mineiro:
- Porque todos em nosso Estado aderiram a Vestimenta e ninguém adotou o
uniforme caqui? – Era apenas uma curiosidade sem menosprezar o direito de
escolha. Quando Regional em Minas aprendi com outros chefes em resguardar as tradições
e mística criadas por antigos chefes e o próprio Baden-Powell. Ele educadamente
respondeu que muitos ainda lutam por seus ideais mesmo diferente do que
preconiza a UEB. Alertou que em 2018 o Uniforme Caqui será extinto. Já tinham
me informado antes.
Sei que
a maioria dos nossos chefes aceitam sem reclamar. Uns por estar de bem com a
vida na associação outros porque já participam do poder. A UEB ou EB despreza pesquisas,
consultas e dificilmente pede opinião. – Chefes mais ligados ao poder costumam
dizer que temos direitos. É só participar das assembleias. Uma piada, pois
sabemos que nada será mudado. Os que tentaram saíram decepcionados. Já dava
como esquecido meu dissabor com a implantação da vestimenta. Estão extinguindo
o caqui. Não posso me calar. Nos porões do poder poucos decidiram o que
devíamos vestir e quais uniformes seriam extintos. Alguns souberam por membros
da corte e que contam as novidades das reuniões secretas dos nossos lideres
nacionais. Até hoje é assim.
A apoteose
aconteceu em uma Assembleia feita no norte do país. Como se fosse um desfile
pomposo, à moda dos Faschion Week só que desta vez escoteiro surgiu em
magnificas apresentações, modelos de diversas idades, rapazes e moças super
simpáticos, desfilando como os dignos representantes do escotismo com a nova
vestimenta. Um épico. 19 tipos a escolha. Os lideres sorriam de satisfação. A
noticia correu de norte a sul. O velho caqui ali não estava representado. Não
sei se era o plano, mas a confecção tinha um só dono: - A UEB. Faturamento
garantido. Mais de oitenta mil clientes cativos. Preços sem competitividade. E
a confecção? Os que compraram sabem como são.
Mas eis que alguns não
concordam. Voltam a velho Caqui tradicional. Conhecido de norte a sul é um
ícone do Escotismo nacional. E de novo vem os donos do poder espalhar na “calada
da noite” a noticia que o Uniforme caqui será extinto. Não sei a porcentagem de
Grupos que usam este uniforme no Brasil. Sei que devido aos desmandos e aos
preços absurdos da vestimenta, muitos voltaram a usar o Uniforme Caqui. Dizer
que o gasto da compra da vestimenta dá tranquilamente para comprar três
uniformes caquis é mais que o óbvio.
Como
sempre entra ano e sai ano as unidades locais nunca são consultadas, e nem pesquisadas
de alterações ou mudanças. Na época da implantação da vestimenta muitos queriam
saber quais grupos foram consultados e se houve uma pesquisa nacional.
Respostas ambíguas aconteceram. O mesmo acontece com a extinção de muito das
nossas místicas e tradições. Os audazes defensores sempre explicam o inexplicável
e nunca os donos do poder dizem nada. Afinal não dizem que nada que fazem pode
dar prejuízo? Quem despreza milhares de cliente cativos? E com o cancelamento
do caqui isto não vai redundar em mais clientes? Sei que tudo que fazem é em
beneficio da causa. Não mudaram os distintivos atuais por novos? Por quê? Para aumentar
o faturamento ou para modernizar? Querem criar um movimento elitista onde os
pobres não entram?
Um truste às avessas. É a
única loja que compras coletivas de um grupo não tem desconto. Eita comercio
fajuto sô! E o preço? Não adianta reclamar da confecção de segunda mão, do
tecido sem qualidade. Números fornecidos que não batem com o comprador. O que
vemos são calças bombachas, camisas enormes e grotescamente solta por cima da
calça. Mais gastos para corrigir os defeitos que aparecem. Uma confecção
medíocre para padrões de primeiro mundo.
O que temos hoje de normas estatutárias
dá poder absoluto aos lideres do poder. Dizem que é uma democracia representativa
onde os associados elegem os representantes da associação. Outra piada
nacional. Nosso Congresso ou Assembleia tem menos de 0,2% de representatividade
e para ser um deles é preciso estar bem com a classe votante, quem sabe estar em
conluio com os que fazem acontecer. Melhor é participar de um distrito, região
ou ser um formador.
Não há reclamantes. Todos
sabem que poderão ser admoestados ou até mesmo sofrer o rigor da Lei implantada
pela EB. Muitos não aceitam e partem para outra associação. Não sei se é o
melhor caminho. Podem até ter o espirito de servir, mas ainda são representadas
na liderança pelos seus fundadores. E nossos voluntários Uebeanos só dizem que
a preocupação é com a criança. Pois é!
Nossa liderança não se preocupa em ajudar e manter
em suas hostes seu efetivo atual. Não informa a evasão não fornece números, nem
sabemos quantos lobos ou escoteiros permanecem por mais de dois anos. Se a concessão
do Cruzeiro do Sul, do Lis de Ouro ou do Escoteiro da Pátria e da Insígnia de
BP acontece de maneira satisfatória. Pesquisas para saber os resultados da implantação
de novos programas não é feita. O que antes era importante hoje deixou de ser.
A Corte de Honra, o Sistema de Patrulha a Mística da Jângal parece estar sendo
esquecidas. A formação de um Chefe IM se dá por padrões diferentes com trabalho
acadêmico ao se exigir teses de temas que nada tem há ver com o escotismo.
Não importa se em alguns grupos
tudo vai bem. Eu costumo perguntar até quando. Diga-me, quantos receberam por
direito suas condecorações? Quantos Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria foi
entregue em seu grupo neste ano? Especialidades não vale. São entregues aos
montes. Cedo ou tarde será implantado a faixa como os americanos para colocar
nelas as especialidades e distintivos.
Sem pesquisas, sem consultas sem dados
concretos, como responder que temos bons resultados na implantação moderna que
os Donos do Poder realizam hoje? Porque está busca de poder, de Tacos, de ser
um Grande Chefe sem ter os requisitos de um bom Badeniano? Qual a filosofia que
querem postar para a eternidade? Estamos deixando no limbo do esquecimento o
ultimo manto sagrado do escotismo nacional. O uniforme Caqui. Um padrão
reconhecido de norte a sul do Brasil e que levará anos e anos para a vestimenta
ser como ele.
Nota de rodapé: - Já me disseram muitas vezes que a
porta da rua é a serventia da casa. Para mim não. Mesmo não tendo registro na
EB sou escoteiro desde que nasci lobo em 1947 pertencendo a União dos
Escoteiros do Brasil. Luto pelas tradições, pelo respeito a nossa história.
Pelo escotismo de raiz com resultados. Não aplaudo invenções que ainda não
foram testadas. Em nome de normas estatutárias feitas por eles mesmos estão
mudando os rumos do Escotismo Nacional. Copiam países sem saber eles estão no
caminho certo. Escotismo sem memória é escotismo de segunda qualidade.
Precisamos de transparência e ética nos destinos do escotismo Brasileiro. Não posso
me registrar para ser admoestado ou mesmo ser ameaçado por pessoas que nada tem
de exemplo para me dar. O meu uniforme caqui o usarei para sempre, independente
do que decidirem os Donos do Poder.