domingo, 12 de novembro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Os donos do poder II.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os donos do poder II.

                  Displicentemente perguntei a um amigo mineiro: - Porque todos em nosso Estado aderiram a Vestimenta e ninguém adotou o uniforme caqui? – Era apenas uma curiosidade sem menosprezar o direito de escolha. Quando Regional em Minas aprendi com outros chefes em resguardar as tradições e mística criadas por antigos chefes e o próprio Baden-Powell. Ele educadamente respondeu que muitos ainda lutam por seus ideais mesmo diferente do que preconiza a UEB. Alertou que em 2018 o Uniforme Caqui será extinto. Já tinham me informado antes.

                   Sei que a maioria dos nossos chefes aceitam sem reclamar. Uns por estar de bem com a vida na associação outros porque já participam do poder. A UEB ou EB despreza pesquisas, consultas e dificilmente pede opinião. – Chefes mais ligados ao poder costumam dizer que temos direitos. É só participar das assembleias. Uma piada, pois sabemos que nada será mudado. Os que tentaram saíram decepcionados. Já dava como esquecido meu dissabor com a implantação da vestimenta. Estão extinguindo o caqui. Não posso me calar. Nos porões do poder poucos decidiram o que devíamos vestir e quais uniformes seriam extintos. Alguns souberam por membros da corte e que contam as novidades das reuniões secretas dos nossos lideres nacionais. Até hoje é assim.

                  A apoteose aconteceu em uma Assembleia feita no norte do país. Como se fosse um desfile pomposo, à moda dos Faschion Week só que desta vez escoteiro surgiu em magnificas apresentações, modelos de diversas idades, rapazes e moças super simpáticos, desfilando como os dignos representantes do escotismo com a nova vestimenta. Um épico. 19 tipos a escolha. Os lideres sorriam de satisfação. A noticia correu de norte a sul. O velho caqui ali não estava representado. Não sei se era o plano, mas a confecção tinha um só dono: - A UEB. Faturamento garantido. Mais de oitenta mil clientes cativos. Preços sem competitividade. E a confecção? Os que compraram sabem como são.

                  Mas eis que alguns não concordam. Voltam a velho Caqui tradicional. Conhecido de norte a sul é um ícone do Escotismo nacional. E de novo vem os donos do poder espalhar na “calada da noite” a noticia que o Uniforme caqui será extinto. Não sei a porcentagem de Grupos que usam este uniforme no Brasil. Sei que devido aos desmandos e aos preços absurdos da vestimenta, muitos voltaram a usar o Uniforme Caqui. Dizer que o gasto da compra da vestimenta dá tranquilamente para comprar três uniformes caquis é mais que o óbvio.

                   Como sempre entra ano e sai ano as unidades locais nunca são consultadas, e nem pesquisadas de alterações ou mudanças. Na época da implantação da vestimenta muitos queriam saber quais grupos foram consultados e se houve uma pesquisa nacional. Respostas ambíguas aconteceram. O mesmo acontece com a extinção de muito das nossas místicas e tradições. Os audazes defensores sempre explicam o inexplicável e nunca os donos do poder dizem nada. Afinal não dizem que nada que fazem pode dar prejuízo? Quem despreza milhares de cliente cativos? E com o cancelamento do caqui isto não vai redundar em mais clientes? Sei que tudo que fazem é em beneficio da causa. Não mudaram os distintivos atuais por novos? Por quê? Para aumentar o faturamento ou para modernizar? Querem criar um movimento elitista onde os pobres não entram?

                   Um truste às avessas. É a única loja que compras coletivas de um grupo não tem desconto. Eita comercio fajuto sô! E o preço? Não adianta reclamar da confecção de segunda mão, do tecido sem qualidade. Números fornecidos que não batem com o comprador. O que vemos são calças bombachas, camisas enormes e grotescamente solta por cima da calça. Mais gastos para corrigir os defeitos que aparecem. Uma confecção medíocre para padrões de primeiro mundo.

                  O que temos hoje de normas estatutárias dá poder absoluto aos lideres do poder. Dizem que é uma democracia representativa onde os associados elegem os representantes da associação. Outra piada nacional. Nosso Congresso ou Assembleia tem menos de 0,2% de representatividade e para ser um deles é preciso estar bem com a classe votante, quem sabe estar em conluio com os que fazem acontecer. Melhor é participar de um distrito, região ou ser um formador.

                  Não há reclamantes. Todos sabem que poderão ser admoestados ou até mesmo sofrer o rigor da Lei implantada pela EB. Muitos não aceitam e partem para outra associação. Não sei se é o melhor caminho. Podem até ter o espirito de servir, mas ainda são representadas na liderança pelos seus fundadores. E nossos voluntários Uebeanos só dizem que a preocupação é com a criança. Pois é!

                  Nossa liderança não se preocupa em ajudar e manter em suas hostes seu efetivo atual. Não informa a evasão não fornece números, nem sabemos quantos lobos ou escoteiros permanecem por mais de dois anos. Se a concessão do Cruzeiro do Sul, do Lis de Ouro ou do Escoteiro da Pátria e da Insígnia de BP acontece de maneira satisfatória. Pesquisas para saber os resultados da implantação de novos programas não é feita. O que antes era importante hoje deixou de ser. A Corte de Honra, o Sistema de Patrulha a Mística da Jângal parece estar sendo esquecidas. A formação de um Chefe IM se dá por padrões diferentes com trabalho acadêmico ao se exigir teses de temas que nada tem há ver com o escotismo.

               Não importa se em alguns grupos tudo vai bem. Eu costumo perguntar até quando. Diga-me, quantos receberam por direito suas condecorações? Quantos Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria foi entregue em seu grupo neste ano? Especialidades não vale. São entregues aos montes. Cedo ou tarde será implantado a faixa como os americanos para colocar nelas as especialidades e distintivos.  


                       Sem pesquisas, sem consultas sem dados concretos, como responder que temos bons resultados na implantação moderna que os Donos do Poder realizam hoje? Porque está busca de poder, de Tacos, de ser um Grande Chefe sem ter os requisitos de um bom Badeniano? Qual a filosofia que querem postar para a eternidade? Estamos deixando no limbo do esquecimento o ultimo manto sagrado do escotismo nacional. O uniforme Caqui. Um padrão reconhecido de norte a sul do Brasil e que levará anos e anos para a vestimenta ser como ele.

Nota de rodapé: - Já me disseram muitas vezes que a porta da rua é a serventia da casa. Para mim não. Mesmo não tendo registro na EB sou escoteiro desde que nasci lobo em 1947 pertencendo a União dos Escoteiros do Brasil. Luto pelas tradições, pelo respeito a nossa história. Pelo escotismo de raiz com resultados. Não aplaudo invenções que ainda não foram testadas. Em nome de normas estatutárias feitas por eles mesmos estão mudando os rumos do Escotismo Nacional. Copiam países sem saber eles estão no caminho certo. Escotismo sem memória é escotismo de segunda qualidade. Precisamos de transparência e ética nos destinos do escotismo Brasileiro. Não posso me registrar para ser admoestado ou mesmo ser ameaçado por pessoas que nada tem de exemplo para me dar. O meu uniforme caqui o usarei para sempre, independente do que decidirem os Donos do Poder.