quarta-feira, 29 de março de 2017

Crônicas do Velho Chefe Escoteiro. Nada de novo no Front!


Crônicas do Velho Chefe Escoteiro.
Nada de novo no Front!

                 Foram inúmeros os artigos que fiz sobre o Escotismo Brasileiro. Comentei sobre a evasão, a nova metodologia de formação, o sistema utilizado para a escolha dos nossos dirigentes e inúmeros sobre a perda da identidade através da tradição que devíamos ter observado com mais atenção. Publiquei e foram poucas as manifestações o que me deu a impressão que a maioria concorda com os desmandos, exigências, admoestações e ameaças feitas no silêncio da madrugada. Baden-Powell nos deu a mais sublime maneira para sermos felizes, aprendermos mutuamente até nos transformar em uma Fraternidade Mundial com inúmeros benefícios para a humanidade. O tempo foi demonstrando que não era bem assim. Faz parte da evolução de um povo e nossa associação se transformou em uma redoma de vidro, onde os que estão não querem sair e outros querendo entrar e não conseguem.

                  Conforme a Wikipédia uma Associação é uma organização resultante da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos para a realização de um objetivo comum. São voluntárias, aberta a todas as pessoas aptas a usar os seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial politica, religiosa e de género. São controladas pelos seus sócios que participam ativamente no estabelecimento das suas políticas e tomadas de decisões. Bem isto deveria também ser subtendido em nossa associação escoteira. Somos uma associação única que através de uma promessa e uma lei, nos coloca disciplinarmente a aceitar tudo que a Associação define. Os estatutos que não foram discutidos abertamente com todos os sócios tolhem em muito a possibilidade em termos crédito, dar opiniões votar e ser votado.

                   O sistema de castas e projeções hierárquicas não permite que muitos contrários dos atos da associação possam ser discutidos abertamente. Qualquer membro sócio sabe que sem obedecer à disciplina férrea ou mesmo a subserviência dificilmente alguém poderá alcançar um dia o topo da hierarquia da associação. É fato notório que em todas as suas bases, seja na Unidade Local, regional e nacional as eleições são direcionadas para que a mesma liderança anterior permaneça ou então sejam eleitos os já escolhidos de antemão. É como dizem que amigos do rei é meu amigo. Ou melhor, para o amigo tudo para o inimigo a força das normas Escoteiras. Poderia alongar em muito que nestes meus quase setenta anos de escotismo vi e senti o porquê ainda somos considerados não só um país de terceiro mundo, mas nosso escotismo também.   

                 Conforme o último censo, chegamos aos noventa mil. Um nada comparado com a média populacional de jovens em nosso país. Quantas alterações imposições de novas formas de aprendizado e quantas modificações houveram em nossa associação nos últimos 40 anos? Em todas as Assembleias Nacionais ou Regionais os mesmos fatos acontecem e não mudam. Teremos agora um Congresso Nacional onde alguns lutam para serem eleitos como Delegados com vista até mesmo a disputar uma vaga no CAM (Conselho de Administração Nacional). Sabemos que aqueles que não tem uma linha de simpatia ou então são considerados “persona non grata” dificilmente serão eleitos. O legado do escotismo nacional está cheio de homens e mulheres que não se importam com o destino de nossa direção e a disciplina imposta dirige a todos para o bem comum que é a formação da juventude. A associação aplaude.

                    Sabemos de antemão que são poucos que discordam, dão opiniões e sabemos também que muitos que assim fizeram foram admoestados e muitos tiveram que sair do movimento. Enumerar os desmandos da nossa Associação são tantos que várias paginas não dariam para anotar todos. Ultimamente um dos motes preferidos é de que nenhuma atividade ou programa onde se tem dois ou mais escoteiros tem por obrigação dar lucro. A palavra prejuízo é proibida entre os dirigentes da Associação. Veja o caso do MUTPIO (Mutirão Pioneiro), uma atividade para pioneiros que o descaso dos dirigentes simplesmente ignora que nem todos podem arcar com esta despesa. Esqueceram-se de outros gastos como transporte alimentação na ida e volta entre outros.

                   Um Mestre Pioneiro meu amigo me escreveu: - Chefe sabia que o MUTPIO de novembro em Salvador Bahia, terá uma taxa de R$700,00? São três dias chefes, e olhe eu cobrei de um membro do CAN o qual torci e ajudei a ser eleito e ele respondeu que os valores estão corretos e que nada podia fazer. Três dias. Três dias por setecentos reais. E olhe que aqui nas Redes Sociais ainda aparecem chefes defendendo tais valores. E dizem que pobre não tem vez no escotismo. Veja bem, um Pioneiro é um jovem em fase de formação profissional e educacional, e sabemos que além do grande desemprego no Brasil muitos não tem nem mesmo vínculo empregatício. Se ele pensou em ir, perdeu seu tempo. Esta é a realidade no nosso Escotismo Nacional. Pagou? É amigo do Rei? Então está conosco, ao contrário peça para sair! 


               Prefiro não entrar nos detalhes da taxa extra do Jamboree no Japão, nas cobranças dos dois últimos Jamborees nacionais onde pipocavam faixas de empresas fazendo seu marketing. Pois é, sempre achei que a associação tudo pode para dar alegria aos seus associados. Nossos dirigentes (seu não meu) atuais pensam diferentes. Pagou! Bem vindo. Não tem como pagar? Peça para sair! E termino com um breve comentário de Martin Luther King um dos mais importantes lideres do movimento de direito civis: - “O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".


 Hoje me lembrei de um artigo que fiz há tempos: “Ensinando Democracia”. Sempre acreditei que nossa associação poderia ser uma democracia plena o que não é atualmente. Anos passaram e continuamos na mesma. As unidades locais (Grupos Escoteiros) que são o verdadeiro motivo para a existência da Associação não têm os direitos que deveria ter. Ser consultada, poder votar e ser votado em qualquer escalão. Ela hoje é uma mera seguidora sem voz. Sei que muitos discordam, um direito, mas quem conhece o sistema sabe como funciona. BP comentou uma vez que nós não devemos ficar sempre a olhar para a ponta do nariz. Existem outros horizontes. E quem se habilita?