Crônicas do Velho Chefe Escoteiro.
Nada de novo no Front!
Foram
inúmeros os artigos que fiz sobre o Escotismo Brasileiro. Comentei sobre a
evasão, a nova metodologia de formação, o sistema utilizado para a escolha dos
nossos dirigentes e inúmeros sobre a perda da identidade através da tradição
que devíamos ter observado com mais atenção. Publiquei e foram poucas as
manifestações o que me deu a impressão que a maioria concorda com os desmandos,
exigências, admoestações e ameaças feitas no silêncio da madrugada. Baden-Powell
nos deu a mais sublime maneira para sermos felizes, aprendermos mutuamente até
nos transformar em uma Fraternidade Mundial com inúmeros benefícios para a
humanidade. O tempo foi demonstrando que não era bem assim. Faz parte da evolução
de um povo e nossa associação se transformou em uma redoma de vidro, onde os
que estão não querem sair e outros querendo entrar e não conseguem.
Conforme a Wikipédia uma
Associação é uma organização resultante da reunião legal entre duas ou mais
pessoas, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos para a
realização de um objetivo comum. São
voluntárias, aberta a todas as pessoas aptas a usar os seus serviços e dispostas
a aceitar as responsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial
politica, religiosa e de género. São controladas pelos seus sócios que
participam ativamente no estabelecimento das suas políticas e tomadas de
decisões. Bem isto deveria também ser subtendido em nossa associação escoteira.
Somos uma associação única que através de uma promessa e uma lei, nos coloca
disciplinarmente a aceitar tudo que a Associação define. Os estatutos que não
foram discutidos abertamente com todos os sócios tolhem em muito a
possibilidade em termos crédito, dar opiniões votar e ser votado.
O sistema de castas e
projeções hierárquicas não permite que muitos contrários dos atos da associação
possam ser discutidos abertamente. Qualquer membro sócio sabe que sem obedecer à
disciplina férrea ou mesmo a subserviência dificilmente alguém poderá alcançar
um dia o topo da hierarquia da associação. É fato notório que em todas as suas
bases, seja na Unidade Local, regional e nacional as eleições são direcionadas
para que a mesma liderança anterior permaneça ou então sejam eleitos os já
escolhidos de antemão. É como dizem que amigos do rei é meu amigo. Ou melhor,
para o amigo tudo para o inimigo a força das normas Escoteiras. Poderia alongar
em muito que nestes meus quase setenta anos de escotismo vi e senti o porquê
ainda somos considerados não só um país de terceiro mundo, mas nosso escotismo
também.
Conforme o último censo, chegamos
aos noventa mil. Um nada comparado com a média populacional de jovens em nosso
país. Quantas alterações imposições de novas formas de aprendizado e quantas
modificações houveram em nossa associação nos últimos 40 anos? Em todas as
Assembleias Nacionais ou Regionais os mesmos fatos acontecem e não mudam.
Teremos agora um Congresso Nacional onde alguns lutam para serem eleitos como Delegados
com vista até mesmo a disputar uma vaga no CAM (Conselho de Administração
Nacional). Sabemos que aqueles que não tem uma linha de simpatia ou então são
considerados “persona non grata” dificilmente serão eleitos. O legado do escotismo
nacional está cheio de homens e mulheres que não se importam com o destino de
nossa direção e a disciplina imposta dirige a todos para o bem comum que é a formação
da juventude. A associação aplaude.
Sabemos de
antemão que são poucos que discordam, dão opiniões e sabemos também que muitos
que assim fizeram foram admoestados e muitos tiveram que sair do movimento.
Enumerar os desmandos da nossa Associação são tantos que várias paginas não
dariam para anotar todos. Ultimamente um dos motes preferidos é de que nenhuma
atividade ou programa onde se tem dois ou mais escoteiros tem por obrigação dar
lucro. A palavra prejuízo é proibida entre os dirigentes da Associação. Veja o
caso do MUTPIO (Mutirão Pioneiro), uma atividade para pioneiros que o descaso
dos dirigentes simplesmente ignora que nem todos podem arcar com esta despesa. Esqueceram-se
de outros gastos como transporte alimentação na ida e volta entre outros.
Um Mestre Pioneiro
meu amigo me escreveu: - Chefe sabia que o MUTPIO de novembro em Salvador
Bahia, terá uma taxa de R$700,00? São três dias chefes, e olhe eu cobrei de um
membro do CAN o qual torci e ajudei a ser eleito e ele respondeu que os valores
estão corretos e que nada podia fazer. Três dias. Três dias por setecentos reais.
E olhe que aqui nas Redes Sociais ainda aparecem chefes defendendo tais valores.
E dizem que pobre não tem vez no escotismo. Veja bem, um Pioneiro é um jovem em
fase de formação profissional e educacional, e sabemos que além do grande
desemprego no Brasil muitos não tem nem mesmo vínculo empregatício. Se ele
pensou em ir, perdeu seu tempo. Esta é a realidade no nosso Escotismo Nacional.
Pagou? É amigo do Rei? Então está conosco, ao contrário peça para sair!
Prefiro não entrar nos detalhes
da taxa extra do Jamboree no Japão, nas cobranças dos dois últimos Jamborees
nacionais onde pipocavam faixas de empresas fazendo seu marketing. Pois é,
sempre achei que a associação tudo pode para dar alegria aos seus associados.
Nossos dirigentes (seu não meu) atuais pensam diferentes. Pagou! Bem vindo. Não
tem como pagar? Peça para sair! E termino com um breve comentário de Martin
Luther King um dos mais importantes
lideres do movimento de direito civis: - “O que mais
preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos
sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".