terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Contos de Fogo de Conselho. Pink Bob Floid.


Contos de Fogo de Conselho.
Pink Bob Floid.

                   Ontem deixei meus contos, minhas implicâncias com a EB, me resguardei para não discutir ponto de vista com quem não comunga o meu e procurei alguma bela melodia para deixar o tempo passar. Para minha felicidade encontrei no YouTube um Flash Back Instrumental “Las más belas músicas sertõn Brasileña em Flauta Pã”. Demais. Adorei, fechei os olhos e viajei por uma passado que nunca esqueci. Quanto tempo sem ouvir Recuerdo Del Ypacaray, Galopeira, Chalana, lá puerta de ninño, Mercedita, Lugar delante e tantas outras. Ah! Que saudades dos velhos tempos.

                  Mas escoteiro não passa um segundo sem pensar nesta filosofia incrível que marca que agarra no coração da gente e não podemos ficar um minuto sem pensar na sua perfeição grandiosidade e no que fizemos no que vamos fazer no encanto de tudo no nosso porvir. E eis que me veio à lembrança de Pink Bob Floid. Comissário Regional em Minas eu o conheci por volta de 1969 na Cidade de Taumim das Flores, e fui até lá por pedido de outros chefes para ver o trabalho que ele realizava na cidade no seu Grupo Escoteiro. Seu mesmo! Sempre foi o dono, o proprietário e o patrão.

                 Voltemos um pouco no tempo. Pink Bob Floid nasceu por volta de 1948 com o nome de Venceslau Ponciano. Dos seus pais e parentes não sei bulhufas. Aos quatro anos disse se chamar Pink, aos seis Pink Bob e aos oito Pink Bob Floid. Não mudou seu nome de batismo, mas todos o conheciam por Pink Bob Floid. Ele não era diferente da meninada da cidade. Gostava do “finquinho” nos dias chuvosos, de uma boa turma para jogar birosca nas “panelas” e soltar um bom “papagaio” para o ver sumir nas nuvens.

                 Com dezessete anos Pink Bob Floid passou a dirigir a loja de peças de seu pai. Todos sabiam que lá se encontraria uma válvula para o rádio, uma resistência, parafuso para portas e fechaduras de diversos tipos. Era a única e bem frequentada. Uma manhã sem nenhum “freguês” na loja, ele sentado na porta viu passar seis meninos escoteiros de bicicleta. Correu atrás deles esquecendo-se de fechar a porta da loja. Alcançou-os próximo ao Campinho do Mato Dentro. Não se sentiu intimidado aproximou e ficou conversando com eles até duas da manhã.

                No dia seguinte viu que a porta da loja ficou aberta, mas nada foi roubado. Coisas de antigamente em cidades pequenas. Quando os escoteiros foram embora ele resolveu criar um grupo em sua cidade. Todos os possíveis que podiam ajudá-lo tinham uma desculpa. Tudo bem precisava só de uma salinha e mais nada. Conseguiu com Seu Zé das Mercedes, atrás do Moto Clube da cidade. Uma cabana simples. Isto foi em meados de 1966. Quando lá cheguei lá em 1969 fiquei surpreso com o Grupo Escoteiro Baden-Powell.

                Acredite se quiser, mas ele tinha uma alcateia completa, uma tropa com trinta escoteiros e algum que nunca vi, uma tropa sênior com vinte e quatro sênior, quatro patrulhas sim senhor! Mas o que mais surpreendeu que ele era o Akelá, o Chefe de tropa de sênior, o Chefe do grupo e presidente da Comissão Executiva que não tinha ninguém. Não tinha assistentes e nem mesmo um pai ele aceitava lá. Ficamos amigos. – “Seu” Comissário, no sábado e domingo fecho a loja, dou reunião para os lobos pela manhã, para os escoteiros à tarde e os sêniores à noite. Não preciso de ninguém. Os que aqui chegaram mandei embora. Quiseram mandar mais que eu! - Se for para o campo à loja é fechada o tempo que precisar.

               Dialogamos noite à dentro. Gostei de ouvi-lo. – Nunca fez curso, me disse que quando tinha dúvidas consultava o Escotismo para Rapazes, ou o Guia do Chefe Escoteiro. Tinha na cabeceira o Guia do Lobinho de BP e o de Carlos Gusmão Silva. Não precisava de mais. Ganhou de um padre o Guia do Escoteiro do Velho Lobo. Pelas normas da UEB tudo errado, mas o que fazia tinha sucesso absoluto na formação dos jovens.

              Ficamos amigos apesar de me dizer que não precisava de registro. Tinha o apoio dos pais e dos meninos. – “Seu” Comissário desde que comecei só o Emiliano saiu porque seu pai foi para a capital. Pisquei os olhos surpreso. Mantivemos contato por correspondência por muitos anos. Em 1976 deixei o comissariado e não tivemos mais contato. Até hoje penso se ele serve de exemplo ou não, na duvida acredito que nem todos podem ser como ele. Normas tem que ser seguidas.

             Já em São Paulo por volta de 1991 passei por lá em uma viagem a serviço da minha empresa. Perguntei no posto de gasolina por ele. – Senhor, ele mora na Casa de repouso da Dona Eulália. – Ainda tem o Grupo Escoteiro? – Nunca deixou. Hoje Maneco e Tadeu dirigem. Foram seus escoteiros, alias quase toda a população da cidade. E sabe da melhor? Mosquito, ou Melhor, Aldo dos Anjos um dia achou um bilhete da Mega Sena. O procurou e ele guardou. Uma semana depois lembrou e quando conferiu estava premiado com setenta milhões de reais.

            Não tirou um tostão para ele. Construiu a mais bela sede escoteira, com três andares e ainda sobrou para melhorar a casa de Repouso da Dona Eulália. Com problemas de renite e de visão, passou o grupo para frente e foi morar lá. Dizem que ele um dia vai casar com Dona Eulália. Não sei. São bons amigos e todas as tardes de domingo a gente os vê saindo da Missa e de mãos dadas ficam horas na Praça Santa Edwiges. Não tinha mais o que dizer. Fui embora e agora estou a ouvir tranquilamente o que mais gosto. Melodias que a gente nunca esquece e que ficam no coração da gente para sempre!


Nota – Muitos nomes e dados aqui descrito foram alterados para salvaguarda de pessoas que ainda podem estar vivas.

Obs. -  Oi! Olhai a tua volta. Quantas pessoas especiais você tem deixado passar e partir? Aquela pessoa virando a esquina não foi seu amigo? E aquela outra que te auxiliou em tua caminhada e você deixou de lhe estender a mão? Olha, não deixe eles passarem sem lhes fazer uma saudação, dar um abraço e dizer muito obrigado. Elas não vão lhe fazer mal. O mundo não precisa ser tão frio e muitas felicidades passam às vezes ao seu lado e você nem viu! (baseado em um poema de Augusto Branco).