Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Ver para
crer! São Tomé?
Num arroubo de coragem e bravura, próprio dos
Velhos Escoteiros que já deviam estar aposentados, levantei da minha barraca e
resolvi escrever. O tema não importava, pois à medida que fosse teclando iria
deixar meu pensamento voar nas asas da imaginação... Como sempre faço. Eu precisava
respirar escotismo, sentir o cheiro da Cana Caiana, do magericão perfumado perdido
na beira da lagoa azul. Putz! Sem escotismo perco a esperança de viver. Não
está fácil sentar aqui nesta maquina de fazer traquinagens e viver os sonhos de
cada um que aqui vem dar sua contribuição.
Um dia fiz um juramento.
Nem sei por que fiz já que o “Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale
mais que sua própria vida”. Mas cá prá nós dizem que se os chefes não jurarem
não serão acreditados. Ban. Eu disse me olhando no espelho: - Vado deixe que
eles falem, se expressem, deixe que eles aprendam o caminho se perdendo nele. –
Mas quem são eles? São soturnos chefes que estão chegando e com nova visão
acreditam que o escotismo (deles) é a salvação. Entregam-se de corpo e alma acreditando
sem ser São Tomé, vendo e crendo.
Pensando bem os que me leem acreditam
que meus escritos tem certo valor pelo tempo que passei escoteirando. Mas por
favor, não sou um velho Sábio, um literato, um mestre na arte de mostrar o
caminho a seguir escoteirando. Nunca fui igual a São Tomé que incrédulo não
acreditava na ressurreição de Jesus Cristo. Isto ficou marcado no imaginário
popular. - Só vendo, para acreditar!
Vez ou outra alguém gentilmente
me escreve me perguntando onde aprendi li, e qual a fonte. – Chefe ela é
confiável? Ban! Não sei. Eu li por aí. Não traduzi. De “inglês, francês,
italiano e o escambal” mal falo e escrevo o português e mesmo assim cheio de
erros e concordâncias que não existem. E os que corrigem as traduções que não
fiz? Pois é, são almas boas que vão aos poucos me ensinando. Sabiam que já fui
professor de Mobral? Um dia vou contar.
Escrevo muito sobre Baden-Powell.
Sou um adepto de sua filosofia. Anoto tudo que leio sobre ele. Tiro sempre um
tempo para pesquisar. Se o que escreveram não foi real, eu acredito que foi.
Não arredo o pé! Sou mesmo um velho teimoso que não abre mão de suas crenças.
Afinal não vou interpelar os versículos bíblicos. Se foram reais ou não isto
para mim não importa. Afinal preciso de provas do porque as estrelas brilham? Do
vento que sopra e não vejo? Dizem que o firmamento é lindo, que existem tantas
estrelas que nunca poderão contar.
Eu peço desculpas aos
incrédulos. É um direito inalienável seu modo de pensar. Se um dia Ele disse
que um sorriso é a chave secreta que abre muitos corações e que nenhum homem
pode ser chamado de educado, se não tem uma vontade, um desejo e uma habilidade
treinada para fazer sua parte no mundo, não devo acreditar? Afinal seus escritos
não são verdadeiros? Devemos ou não educar a partir de dentro em vez de ficar
falando sem realizar? Chefe! Ofereça jogos, atividades atraentes ao rapaz e você
terá dado um enorme passo para que ele aprenda moral, mental e fisicamente. Ele
disse isso?
Há tempos participava de um grupo
de discussão onde muitos expunham seus pensamentos e ponto de vista. Quando começavam
a discutir Baden-Powell adora o que escreviam. Afirmavam sua escolha sexual e
de sua virilidade. Casou por conveniência. Era adepto dos pensamentos de Adolf
Hitler e em sua cabeceira tinha o livro Mein Kampf. Ora bolas, e daí? Vai
contribuir pela sua formação escoteira? Se ele não era o que pensava o que está
fazendo aqui? Dizem (olha a dúvida de novo) que mais de quinhentos milhões de
pessoas já passaram pelo escotismo. È mesmo? Prove!
Costumo me perguntar se os que assim procedem
têm exemplos para dar. Nas suas sessões não existe evasão? Quantos Escoteiros
da Pátria e Lis de ouro? Patrulhas completas por anos? Os lobos que passam
permanecem por muito tempo? Chegam a Seniores? Eu sei que temos muitos se
esforçando para dar o verdadeiro sentido escoteiro aos seus jovens. Mas os que
se sentem donos da verdade, que precisam ver para crer ainda tem muito que
conhecer e vivenciar nos rastros do fundador. Não tenho a varinha mágica para
dizer que tudo e verdade, que o escotismo feito conforme Baden-Powell é o
caminho para o sucesso.
Servir é uma bela palavra quando
fizemos a promessa. Não aquela imposta pelos nossos lideres que exigem dos
adultos finalizar dizendo Servir a União dos Escoteiros do Brasil! Não seria o
contrário? E ela serve quem, a WOSM? Aí tem duplo sentido. Uma associação que
não serve aos seus associados perde a razão de existência. Penso no que disse
BP que a melhor maneira de superar as dificuldades é atacá-las com um grande
sorriso!
Eu sou um velho escoteiro que
passou pela vida. Mil e uma noites de acampamentos, milhares de quilômetros rodados
em trilhas e montes para aprender fazendo. Centenas de fogos de conselho,
milhares de abraços e aperto de mão. Impossível descrever a cada um que disse Sempre
Alerta, Melhor possível ou Servir. Aprendi a compreender e acreditar que cada um
que fez sua promessa tem algum de bom para ajudar ao escotismo. Acredito no que
escrevo. Não duvido que haja uma lua cheia a cada tempo passado. Tenho certeza
que amanhã o sol vai surgir e vai se pôr para que as estrelas cheguem brilhando
no céu.
Voltando para minha barraca. Cansado demais.
O corpo pede silencio. Até mais meus amigos a quem desejo um lindo final de dia
e uma noite de acampamento inesquecível. Sempre Alerta!
Nota
- Ouvir umas histórias. Contar algumas também. Botar a conversa em dia… Falar
sobre nós um pouco, contar umas estrelas. Fazer uns pedidos. Quem sabe realizar
alguns meus. Rir um pouco. Sentir-se leve. Esquentar um pouco os pés frios… O
coração vazio. Venha meu amigo, sente-se aqui em volta do fogo. Vamos papear
Baden-Powell. Matar essa saudade. E essa vontade. Quem sabe sentir o vento e
pensar que poderia voltar no tempo e dar uma passada em Seeonee ou em Brownsea.
Não sei…