domingo, 16 de julho de 2017

“Operação Mata Pato”


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“Operação Mata Pato”

                         O sol estava se pondo e o calor atravessava a aba do meu chapelão Escoteiro. Nunca o abandono principalmente agora que estava na pele de quando fui um grande Agente Secreto Escoteiro. Não esqueço o dia que desceu do trem em minha cidade um homem estranho, alto, forte com um chapéu rosa esquisito na cabeça, de sandálias camisas e bermudas também rosa. – Que isto? Eu pensei. Só poderia ser um espião da KGB ou um alto dirigente do Escotismo Brasileiro. Dizem que eles têm dois estilos. Um circunspecto sério, caladão e só andam na sombra da noite. O outro espalhafatoso, querendo se mostrar diferente para tapear agentes secretos sérios como eu. Dei voz de prisão ao espalhafatoso.

                       Afinal eu estava uniformizado garboso com meu caqui e de calças curtas, com meu chapelão (Cacilda, ele não sai da minha cabeça) e minha faca alemã na cintura. Ele me olhou e deu belas gargalhadas. Tirou do bolso uma identidade. Era o novo Juiz da cidade. Sorri seco e pedi desculpas. Ainda bem que ele fora Escoteiro. Estava eu a cumprir uma missão em Piquitiba, cidade famosa por ser a sede da Lava jato e agora da operação Mata Pato. Mineiro do sul do trópico de capricórnio, eu me orgulhava de ser um autêntico Arabutáneo, nome retirado de uma arvore mais bonita que o Pau Brasil. Arabutâ tinha mais de 300 mil escoteiros e se orgulhava de sua disciplina. Não havia perdão para os faltosos. Se errou escoteiramente o pau comeu.

                      Eu sabia que naquele mato não saia pato isto é coelho e quem abusava ia passar uma temporada vendo o sol nascer quadrado nas masmorras de Piquitiba. Mas eu era um valente. Sempre fui. Na minha infância enfrentei bandidos e peguei um jacaré pelo rabo só para ver quantas voltas em torno de si mesmo ele aguentava sem ficar tonto. Não foi difícil encontrar a sede nacional. Eu sabia que estava sendo julgado no tal Conselho de Ética. Tudo porque recebi o certificado me nomeando para a Academia Escoteira de Letras. Eu era agora um imortal por ser um fajuto escritor de contos escoteiros. Só pode ter sido falsificado diziam. Dois diretores um Italiano cheio de sorrisos e outro sulista trovador e tocador de guitarra haviam me nomeado sem mesmo ter autorização dos Valentes Chefes de Piquitiba ou me perguntar se queria.

                     Recebi pelo correio o fardão. Iria ficar supimpa com ele, mas só o usaria se pudesse no dia posse usar meu chapelão Escoteiro e por baixo meu uniforme caqui. Bem agora precisava saber se iam melar minha posse. Só em Piquitiba poderia saber. Era uma sede simples e quem via não comentava que o Tal fora Temer da presidência um dia foi lá e ficou fã da oligarquia rica e já famosa. A porta estava aberta. Olhei e vi uns dez funcionários jogando dominó e outros tirando um cochilo. Não havia nenhum profissional Escoteiro lá. Quem trabalhava mais era o pessoal da Cantina. Vendiam a rodo a tal nova vestimenta escoteira. Era dinheiro entrando a rodo. Dizem que breve vai custar mais que um salário mínimo nacional.

                    Aproveitei que não prestavam atenção em quem entrava e corri até a porta das escadas que levava ao porão. Minha nossa, levei o maior susto. Se ali era a academia só vi calabouços pintados de verde e amarelo e muitos desenhos da nova flor de lis estilizada e os novos lenços para embelezar os chefes que assumiam o poder. Ser preso junto a estes desenhos seria o fim do mundo. Todas as celas cheias de chefes escoteiros. Vi que a maioria era velhos escoteiros como eu. Perguntei a um porque estava preso – Chefe! Não quis mais escrever SAPS. Eles souberam e me trancafiaram. Outro com aquela cara de B-P perdido no tiroteio em Mafeking disse não aceitar as mudanças do uniforme. Ele era um caqueano e não arredava o pé! Havia dezenas deles. Em um canto muitos confabulavam como sair dali. – Tomou papudo! Quem fala muito dá bom dia ao cavalo, pensei eu.

                       Cheguei a um salão azul que deduzi ser onde se reuniam. Na mesa oval topei com a gang da liderança. A mesa parecia com a da Távola Redonda. Pelo menos ali não havia um Rei Arthur e sua espada mágica. Poucos falavam. Só um era o dono de tudo. Velhos conhecidos do CAN do passado. Grudavam mais que chicletes. A mesa cheia de papeis, fotos minhas espalhadas por todo canto. Um vociferava: Temos que acabar com a raça deste maldito Velho Escoteiro! Outro dizia: Mil dias de prisão em solitária! Um lá do norte mais calmo dizia que devíamos respeitar opiniões. Coitado, foi massacrado. Um mineiro de fala mansa que dei credito para sua eleição e me arrependo até hoje riu e não intercedeu por mim.

                        Eu sempre dizia que eles não tinham a maioria. Afinal eram eleitos por menos de 0,01% do efetivo nacional na Assembleia Nacional. O Chefão da Comissão de Ética torcia as mãos. – Deixa ele comigo, vou mostrar com quantos paus se faz uma pioneira, isto é uma canoa! – O líder quatro tacos sorria de alegria e prazer. Já sonhava com seu quinto taco e quem sabe chegaria a seis como foi B-P. Havia muito tempo que não trancafiavam um Velhote Escoteiro. Precisavam de um para dar exemplo e os demais dizerem SAPS sorrindo! Ouve um zumbido atrás de mim. Virei-me e vi mais de vinte Politicamente Corretos com aqueles bastões usados em jogos de basebol batendo nas mãos e dizendo: - Agora vais pagar por tudo Velho Escoteiro duma figa. Vamos moer você de pancada!

                       Um deles tirou o cinto para me dar uma cintada. A fivela entortou. Era a tal pirata falsificada e material de segunda mão que não valia nada. Outro tirou um chapéu de pano da cabeça, vendido para aumentar o caixa mostrando uma careca enorme com oito fios de cabelo. – Vais me pagar pelos seus contos envenenados seu Velho chato de galocha! – Tremi na base. Não havia como escapar. Ninguem ia me socorrer. Uma figura de um Velho de barba branca com um sorriso legal me disse: Chefe faça como eu, enfrente os inimigos de frente. Eu fiz por merecer na guerra do Transvaal. Não corra! Não mate! Não morra! E viva Gilwell Park!


                     Comecei a berrar feito um louco. Tentei me desvencilhar e nada. Um deles falou baixinho no meu ouvido: Diga que vai usar a vestimenta e eles te perdoam. Olhei para ele com os olhos chamuscando de raiva. Mate-me, me enforque, corte minha cabeça com uma espada, mas se tiver de morrer será com meu caqui de quem nunca me separarei. Levei uma porretada na cabeça. - Acordei com a Célia me chamando. – Marido! Outra vez? Quando vão parar estes seus pesadelos escoteiros? Putz Grila! Ainda bem que era um sonho, mas que pesadelo Deus do céu. Prometo nunca mais fazer isto e ser um escoteirinho obediente e disciplinado. Rarará!

Nota: - Este é um dos meus contos sem eira e nem beira, só para divertir e daqueles que não passam de uma hipotética ilusão da realidade, misturada com utopia freudiana, que se diverte com os nossos dirigentes Escoteiráticos, e que não deve ser levada a sério. Na ultima vez que publiquei algum assim, um dos meus mais respeitados amigos disse que nunca mais iria ler estas mal traçadas linhas. Eu sempre digo, não gostou? Escreva para B.P. ele é o único culpado deste velho xexelento ainda estar aqui! Kkkk.