sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A mística o simbolismo, as origens e as tradições no escotismo estão acabando?


Conversa ao pé do fogo.
A mística o simbolismo, as origens e as tradições no escotismo estão acabando?

                  Os meus artigos sobre mística, simbolismo, nossas origens e tradições tem sido os mais lidos atualmente. Chamou-me a atenção. Peguei todos eles e fiz um condensado, um livro. Após comunicar que estava disponível em PDF me assustei com tantos pedidos. Afinal o tema existia na mente de muitos chefes. Não havia sido esquecido e isto era formidável. Choveram pedidos de todo Brasil. De formadores muitos poucos, uma pena, pois eles sim poderiam ser a paliçada a defender estas mudanças que não trazem o sucesso esperado. Da direção que eu saiba ninguém. Os pedidos partiam de todos os lados de grupos bem estruturados ou não. Confirmava-se assim que existe ainda uma preocupação para preservar nossas origens. Os chefes se ressentem por não mais existirem tantas histórias do passado, e os comentários sempre a dizer que nunca deveriam ter acabado. A falta de uma tradição, de um uniforme, de um distintivo de símbolos que foram deixados de lado bate fundo em muitos chefes.

                   O escotismo dizem hoje os lideres, está assentado em bases sólidas, com um programa definido e metodologia posta em prática em várias partes do mundo. Isto é discutível? Quem afirma isto são poucos, sabemos e não vamos ficar repetindo que as mudanças e alterações estão nas mãos de uma meia dúzia se muito. Existe um estatuto que lhes dão este poder. Estatuto também feito a poucas mãos. Nossa disciplina é tal que poucos se dão ao luxo de discordar. É como dizem por aí, se não está satisfeito peça para sair. Poucos se ressentem ou indagam onde estão os resultados destas mudanças. Onde estão os antigos escoteiros no seio da sociedade brasileira a valorizar nossa organização nosso método e nossos resultados para um país melhor. Os lideres não consultam, não são transparentes vão aos poucos substituindo nossas tradições, nossos símbolos e nossa mística tudo em nome de um modernismo inexplicável. Suas objeções já são conhecidas, suas palavras idem.

                   Não posso afirmar, mas acredito que temos uma das maiores evasões do mundo. A rotatividade é enorme. Pensar que B.P achava que para uma formação adequada no método Escoteiro precisaríamos de pelo menos dez anos isto hoje é uma utopia. Os nossos valores estão sendo substituídos. Uns poucos hoje falam em nome dos jovens como se já soubessem o que eles querem. Ouvir o jovem sempre se tornou uma farsa para muitos dirigentes. Suas noções de mudanças estão presas em suas bases e esquecem-se que temos jovens de várias camadas sociais espalhadas em todo território nacional. A característica principal que nos definia não existe mais. Quando escrevi sobre nossos símbolos do passado ouve uma revoada de decepções por parte de muitos chefes. Muitos desconheciam, outros sentiam saudades e outros me perguntavam o porquê isto foi esquecido ou extinto.

                   Lá se foi uma jarreteira, um penacho, uma estrela de metal, um sistema de provas de classe imbatível que ainda não entendo o porquê não foi adaptado em ver de expurgado. Os lobos que abriam um olho na primeira estrela de prata e sonhavam em abrir os dois com as duas estrelas deixaram estes sonhos no passado. O orgulho de ser um Primeira Classe de ornamentar seu uniforme com um distintivo sonhado não existe mais. Os velhos sonhos aventureiros dizem que hoje isto não é mais possível. Os acampamentos de Gilwell ficaram na história. Poucos são os que ainda fazem assim. Os desfiles a apresentação formal em uma ordem unida escoteira agora é chamada de militarismo e não pode mais ser feita. Até mesmo um Cerimonial de Bandeira já tem formador dizendo que deve ser sucinto e breve sem muitas pompas e misticismo. O Sistema de Patrulhas está sendo abandonado por muitos cursos que se tornaram um amontoado de técnicas modernas que nada tem a ver com o escotismo de B.P.

                    O próprio B.P é para eles um exemplo de mudança. Muitos se arrogam em dizer que se ele estivesse aqui hoje iria aplaudir esta nova concepção escoteira. Os valores então são vistos de outra forma. Como sabem disto? Mas quem decide tudo isto? Quem esqueceu que existe uma associação onde existem milhares de participantes e eles nunca são consultados? Quem decidiu um Estatutos de quatro mãos que lhes deu poderes absolutos? Quando nos aproximamos do escotismo o fazemos por acreditar que ele é diferente, tem métodos interessantes e sua simbologia agrega místicas que nos fazem pensar como são e qual sua importância no contexto. Poderíamos dizer que B.P era um místico? Acho que sim. Afinal ele fundou um movimento diferente de tudo que se conhecia até então. Um cerimonial de bandeira é místico? Formaturas por sinais é místico? Sistema de Patrulhas também seria místico? Uma Insígnia de Madeira também? Pensemos que o Uniforme e seus apetrechos tais como o estilo militar, o chapéu e o lenço; os distintivos e provas de classe; as especialidades e a alegria de ser um Primeira Classe, o sorriso do lobo ao receber sua primeira estrela de metal no boné não seria um misticismo gostoso de participar e viver assim diferente em uma organização? Seria isto misticismo?                      

                        Naturalmente, o Misticismo se faz presente ao longo da história da humanidade desde seu surgimento. As grandes religiões desenvolveram suas correntes místicas e há muita lenda em torno de suas práticas. Sabemos que sem a mística tudo perderia seu valor e interesse dos homens em participar. Ao abraçar o escotismo sem uma liderança adulta os jovens ingleses abraçaram uma mística que estava faltando em suas vidas e seus folguedos diários. O escotismo, portanto desde seus primórdios nunca deixou de ser místico apesar de muitos acharem o contrário. Ele nos levou para um caminho onde todos nos sempre temos uma predileção em conhecer e participar. Uma definição do misticismo não poderia ser ao mesmo tempo significativa de abrangência suficiente para incluir todos os tipos de experiências que tem sido descritas como mística.

                       Peguem um fogo de conselho, existe mística maior? E as historias contadas ao pé do fogo que falam dos Cavaleiros da Távola Redonda, da luta de B.P no Transvaal, o primeiro acampamento em Brownsea, A força espiritual de Gilwell Park, o cumprimento da mão esquerda, as saudações Escoteiras, o lenço, o extinto tope com seu penacho, as jarreteiras, as estrelas de metal e tantos outros. Pessoas têm uma sensibilidade maior diante da natureza; outras, diante de situações humanas; outras, diante de intuições filosóficas; outras, diante de suas reações interiores ou quando se encontram em meio ao borbulho da vida agitada na cidade. O escotismo oferecia isto, uma vida de aventuras, uma mística que transcende o tempo, uma simbologia única, uma tradição quase imutável.


                        Queira ou não o ser humano é um místico e sua procura por onde possa viver diferente registram expressões desta percepção mística invisível, desde Platão aos monges Budistas, desde os primeiro cristão de Jerusalém até os frades carmelitas que viviam no Monte Carmelo, destes os ritos dos mitos indígenas até a intuição das crianças quando olham para o céu estrelado. Duvidar do misticismo Escoteiro é fazer com que ele deixe de existir na sua verdadeira concepção. Se B.P não tivesse feito um escotismo cheio de mística, cheio de simbolismo e uma origem que ate hoje nos orgulhamos eu tenho certeza que ele não existiria mais. Em todas as sociedades sempre temos alguém a proteger estas nuances e nosso movimento Escoteiro está perdendo a sua identidade por falta de alguém que defenda tudo isto.


                     Ainda penso o porquê vários fatores fizeram o escotismo ir aos poucos se tornando triste, um movimento sem passado, uma historia que vai devagar se extinguindo. Hoje a alegria do jovem ao receber um distintivo, sem simbolismo, sem saber que seus ancestrais escoteiros nada mais é que um esquecimento do qual ele não mais vai se lembrar. Tudo isto vai aos poucos perdendo a graça. Quando tudo deixar de existir, quando conseguirem apagar os rastros que nos fizeram viver por tantos e tantos anos, não só os jovens, mas todos nós iremos perder nosso rumo, nossas origens e isto nos fará perder o amor à natureza, a descoberta de novas aventuras. Vai chegar a hora que já chegou para muitos: - Perguntar a si próprio se vale a pena continuar. A mística, o simbolismo e nossas tradições são nossas origens. Ela nos envolve por todos os lados. Ainda bem que tem muitos que pensam assim e se dermos as mãos quem sabe poderemos ainda resgatar nossa memória. E isto meu amigo Chefe só depende de você!