terça-feira, 4 de agosto de 2015

Meus direitos terminam onde começam os seus!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Meus direitos terminam onde começam os seus!

                   Está na constituição brasileira? Não sei, mas sempre ouço alguém dizer isto. Estamos passando por uma fase única no escotismo brasileiro. Os direitos parecem pender para um só lado. Já há alguns anos que a União dos Escoteiros do Brasil se julgou a única com direitos a praticar o escotismo em território brasileiro. Afinal tivemos alguns escotistas que não concordaram com os ditames que a UEB passou a direcionar. Estes sabiam que nunca iriam ter voz e voto na associação e assim resolveram sair da UEB, mas continuar como escoteiros. Afinal era um direito não? Mas eis que nossa liderança não concordou com o que os outros estavam fazendo. Abriu ações judiciais contra estas novas associações que estavam surgindo. Suas alegações baseava que só ela tinha uma procuração do escotismo mundial para praticar o escotismo no território brasileiro. Os tempos foram passando e em quase todas as ações que abriu na justiça brasileira não ganhou uma sequer.

                    A última foi contra os Escoteiros Florestais. Eles tinham seus uniformes, suas insígnias, distintivos e literatura própria. A Juíza da ação disse: “Verifica-se que o Decreto nº 5.497 de 23 de julho de 1928 utilizado como fundamento pela parte Autora, para justificar a exclusividade de porte, uso de uniformes, emblemas e etc., caducou, caiu em desuso, não servindo como parâmetro para o pedido da mesma”. Será que desta vez a UEB aprendeu a lição? Disseram-me que cada uma destas ações nossa associação gasta por baixo mais de Cem mil reais. Será que teremos prestação de contas desta futilidade e gasto inútil? Sabemos que existem e vão existir associações não reconhecidas que estão a aparecer tentando fazer o escotismo que acreditam. Não posso julgar se elas fazem o certo ou o errado, mas ninguém pode tentar tirar seus direitos em fazê-lo.

                   Uma vez um Chefe daqueles que chamo politicamente correto, pois não tem nenhum cargo na liderança escoteira nacional me disse que se eu não “gostava” da UEB que procurasse outra associação. Um Zé Mané que começou ontem a fazer escotismo e se acha dono da verdade. Ele como bom estudioso me “instruiu” com uma dezena de artigos dos estatutos que dão o direito a UEB em fazer o escotismo no Brasil. Bem eu não vou sair da UEB, quando em 1947 me tornei um Lobinho foi acreditando nela, usando seus distintivos e literatura. Há tempos não me registro. Não acho que devo. A prepotência da organização chegou a tal ponto que ela não dá a ninguém explicações. Nunca em tempo algum informou seus associados o porquê fazia tais ações judiciais contra outras associações. Claro, sempre tínhamos os politicamente corretos para explicar e isto sempre acontece até hoje. Como diz o artigo do Café Mateiro estas ações custam caro. Comenta ainda o Café Mateiro que os tópicos da prestação de contas nunca nos dão condições de uma leitura detalhada destes gastos.

                    Quando se comenta que hoje nosso escotismo é feito pelo esforço dos chefes e eles praticamente não tem apoio da nossa liderança, lá vem outros mais politizados a dizer que se o Chefe é bem preparado não precisaríamos disto e nossos Grupos Escoteiros teriam uma estrutura impar para fazer um escotismo perfeito. Outro dia comentei que temos um dos menores contingentes escoteiros da América Latina se fizermos uma média com a população brasileira. Lá veio outro a dizer que importa mais a qualidade do que a quantidade. Perfeito. Um sabe tudo. Mas perguntou para ele onde está esta qualidade que ainda não produziu bons frutos? Afinal uma associação que direciona gastos que poderiam ser mais bem utilizados seja na prática escoteira principalmente financiando uma campanha de marketing para pelo menos sermos reconhecidos nacionalmente o que não somos.

                      O que será que o CAN e a DEN fazem quando estas ações se perdem nas entranhas da justiça? Será que não chegaram a uma conclusão que isto não é bem visto, que não é Escoteiro, que demonstra uma utopia do “eu que mando” demonstra prepotência em vez de fraternidade e principalmente levando em conta nosso sexto artigo da lei escoteira? Afinal somos ou não amigos de todos e irmãos dos demais escoteiros? Ou será que escoteiros somos só nós? Esta vaidade de muito dos nossos adultos estão produzindo um mau escotismo principalmente por parte daqueles que estão chegando e já tem em suas raízes a pendencia de conhecer, de saber raciocinar em bases Escoteiras seus conhecimentos. Muitos destes alardeiam suas arrogâncias de líderes que não condizem de forma alguma com a Lei Escoteira.

                   Em vários países do mundo estão a surgir novas associações. Eu já disse aqui e repito Baden-Powell não passou procuração a ninguém. Nestes países a convivência, a aceitação, o livro arbítrio é aceito sem discussão. Afinal escotismo parece demonstrar que devemos ter um pouco de respeito para com o próximo e sempre achamos que um participante do escotismo teria que ser um gentleman, um cavalheiro e respeitar para ser respeitado. Nosso setor jurídico nunca gastou tanto em folha de pagamento e também nestas custas processuais como esta atual gestão (palavras do Café Mateiro). Até hoje não houve sequer uma explicação condizente por parte dos nossos lideres quanto à evasão que a cada ano acontece no escotismo. Dizer simplesmente que ela é proveniente da falta de bons programas, de chefes bem preparados é uma maneira de culpar os chefes e não dando a devida responsabilidade a nossa liderança nacional.

                      Ainda citando o Café Mateiro, tivemos duas grandes evasões no escotismo brasileiro. Uma em 1993 e outra em 2014. Dizem que a primeira foi pela inclusão do Azul-Mescla, e a segunda pela imposição da vestimenta. Não tenho dados em mãos para afirmar. Sem contar que a cada ano estamos perdendo mais e mais escoteiros e escotistas que estão abandonando tudo aquilo que acreditavam. Desistem decepcionados com a maneira de que os lideres conduzem sem qualquer processo participativo, agindo de forma arbitrária em tudo que fazem. Nossa liderança se exime de dar explicações, prefere ser procurada no seu site e nunca vai até onde devia ir. Procurar seu associado para saber se o caminho percorrido é o certo ou então deixar que ele opine de forma contrária ao que está sendo feito.

                       Dizer que precisamos mudar é malhar em ferro frio. Até hoje ainda não tivemos lideres que desceram do seu pedestal para ouvir seus pares nas unidades locais, ver suas ideias, o que pensam dos atos praticados. Os que chegam já estão com suas ideias prontas, sabem ou acham que sabem o que deve ser feito. Enquanto isto nosso crescimento quantitativo e qualitativo permanece estático. Ser mais pragmático é chover no molhado. Nossos lideres dificilmente assumirão a culpa pelo fracasso das gestões nacionais ruinosas. Dizer que precisamos dar as mãos aos que se interessam por um escotismo reconhecido e respeitado seja em qual associação é perda de tempo. O melhor mesmo é responsabilizar o Chefe. Nossa liderança é a única que não procura ver seus erros, nem vêem que estão levando o escotismo para um caminho sem volta. Quem viver verá.

Meu agradecimento ao Café Mateiro por ter me dado subsídios neste artigo.