Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O preço vale a comenda?
Ah! Surpresas
acontecem. Algumas boas outras não. Nestes minhas andanças Escoteiras nos últimos
74 anos, dos quais 67 fazendo escotismo alegre e solto, de menino a homem feito,
eu passei por tanto na vida que pensei que hoje nada seria novo para mim. De
vez em quando me pergunto: - Que escotismo é este? Que escotismo estão fazendo
diferente de tudo que vi? Chamam-me de velhote, embaçado, cria caso, o único que
conhece a verdade. Mas que verdade? Não é que outro dia li por aí que um Chefe recebeu
uma medalha e a conta? A conta? Medalha tem preço? Tem sim, se você quiser uma
faça um processo e olhe veja se sua mensalidade anual da UEB está paga, se o SIGUE
tem seus dados. Se for assim quem sabe pode ser agraciado, mas tem que pagar.
Tem sim. Quarenta “pilas” barato não? Será que vem com o barrete? Deus do céu.
Para que servem nossas lideranças? Que caixa é esse que não se pode presentear?
Já não basta as mensalidades, as taxas de campo, de Assembleias, de Jamborees e
tantas outras?
Quarenta
“pilas” a de Bons Serviços. Gratidão é o mesmo preço? E a Cruz São Jorge?
Nossa! Fico a pensar no Tapir de Prata, quanto custará? Estou aqui sentando na
minha varanda meditando: - Ouro Preto, Sete de Setembro de um ano qualquer.
Governo mineiro reunido data de entrega de medalhas. Lá estão autoridades de
todo país. Cada uma delas sorrindo ao receber sua condecoração brilhantemente
entregue pelo Governador. Recebe sorri e lhe é entregue um recibo. Passe no
caixa para pagar! Palácio da Alvorada, Presidente, Vice, Juiz Moro, o Presidente
Cunha, Doutor Renan, deputados senadores e tantos outros esperando sua
medalhinha do Brasil querido. Eles merecem. Enfileirados no salão principal vão
recebendo, na mão uma medalha na outra a conta. Conta! Nem pensar... Se pago
vão dizer que é propina me tira desta presidente! Assim é a União dos
Escoteiros do Brasil e estados. Como o papagaio dizia? Ou dá ou peça no
propinoduto. É assim mesmo? Risos.
Interessante
que sempre reclamei da falta de apoio, de motivação com nossos chefes
escoteiros. Se eles tem um grupo com estrutura e simpatia do líder, ou melhor,
do Presidente então podem receber uma medalhinha. Já disse, com a mensalidade
paga, senha no SIGUE, amigo dos homens da corte escoteira então eles podem
receber uma “minguada”. Bons serviços ou quem sabe uma gratidão Bronze. Bronze?
Claro que sim, esqueça a ouro, cara demais. E para por aí, as demais só se você
for da corte, for um IM, bajular alguém importante para dizerem que você prestou
enormes e relevantes serviços ao escotismo brasileiro. Como se seu sacrifício de
todos os sábados, dias de semana, esquecer férias, quem sabe até ser chamado à
atenção pelo seu Chefe por ter chegado atrasado naquele dia de acampamento não
fosse enormes serviços prestados ao escotismo brasileiro.
Mas
pagar? Como diz um Velho lobo não existe almoço de graça. Danado de almoço
caro. O valor não importa, importa o valor da homenagem. Nunca pensei em ver
isto. Uma corrida atrás do ouro Escoteiro sem par da União dos Escoteiros do Brasil.
– Mas se ela não fizer assim, quem vai pagar as medalhas? Meu amigo dê uma
olhada no Balancete da UEB, que ela pague, que ela ou se for uma condecoração a
nível regional que a região pague. Não se pode é cobrar do grupo, do Chefe que
recebe. Perde a graça, perde o valor, perde a homenagem de agraciar. Se falo
isto tenho exemplos. Fui comissário Regional hoje Presidente há muitos anos em
Minas Gerais. Nunca em minha vida cobrei ou deixei cobrar. Isto era uma homenagem
sem preço. Nunca cobramos uma IM um anel de Gilwell. Afinal o voluntário o Chefe
estão a servir a União dos Escoteiros do Brasil pelo simples prazer em ajudar.
Precisam de apoio e agradecimentos. E vem esta cobrança?
Considero
isto uma falta de ética. Não é o preço não. É o descaramento da cobrança. A
gente tá cansado de ver os chefes sendo desprezados pelos lideres, e poucos são
homenageados. E agora inventam este cobrança? Não sei não. Engordar o caixa da
UEB não é o melhor para o escotismo brasileiro. A UEB não precisa de caixa
gordo. Precisa de dinheiro sim para saber valorizar seus chefes, seus
auxiliares, seus voluntários. Se querem empregar bem o dinheiro contratem
profissionais, bons profissionais para dar o melhor de si conseguindo meios financeiros
na sociedade civil e politica, ou mesmo entre os dirigentes empresariais. Tenho
o orgulho de dizer que levei no peito e na raça uma região por oito anos sem
grana. Mas quando precisava vestia meu caqui, colocava meu chapéu e ia para o
Palácio das Mangabeiras em Belo Horizonte. Não saia de lá sem uma ajuda
qualquer.
Não existe
orgulho maior, satisfação maior, alegria inusitada quando um Chefe recebe uma
condecoração. Ele merece, ele faz o escotismo não à cambada de dirigentes. Eles
eu gostaria de saber se lá no alto da sua importância, na sede do poder também
pagam por isto. Já pensou? O presidente e os catorze do CAN recebendo uma
medalha e a conta? E os presidentes regionais e seus assistentes? Quem paga? A região?
Não dá para engolir. Nem vem que não tem, quarenta “pilas” somadas as anuais da
UEB, somadas as taxas de cursos, somadas as taxas do grupo acampamentos e
afins, e somadas ao desgaste que cada Chefe tem ajudando a formar cidadãos que a
cobrança é estupida e indevida. Chego ao fim da minha vida assistindo a este
espetáculo dantesco. A esta busca do enriquecimento em nome do bem maior. Assim
dizem. Sei que muitos já se acostumaram. Um grande pensador dizia que tudo faz
parte do aprendizado. A gente vai vivendo e aceitando o que nunca deveria
aceitar. Daqui a alguns anos tudo se tornará um hábito de comportamento. E quem
viver verá!