Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sintomas psicóticos e psicológicos do Escotismo Brasileiro.
Ops! Onde
estou me metendo? Mal fiz umas séries na escolinha quando menino e agora já sou
doutor? Necas! Não sou mesmo. Claro que sei que a psicologia é a ciência que se
dedica aos processos mentais e comportamentais do ser humano. Mas só. Não
entendo mais que isto, pois sou um Velho Chefe Escoteiro um matuto que saiu da
roça e anda coçando a cabeça com o escotismo moderno que os “çabios” estão
implantando hoje. Outro dia fiquei pensando se um dia se formasse uma patrulha
composta de Sigmund Freud, Platão, Aristóteles, John Dewey, Émile Durkheim,
Immanuel Kant e quem sabe também Baden-Powell, pois ele é considerado um dos
maiores pensadores da humanidade. Como seria esta patrulha? Bom eis que eles se
reúnem, vão decidir o nome da patrulha, o grito, o lema, e claro escolher
votando o líder. O Monitor. Como seria? Será que eles se entenderiam? Será que
eles fariam um time para ninguém botar defeito?
Daria
tudo para ver e ouvir. Tanto se fala em fraternidade, irmandade, sorrisos,
respeito, apertos de mãos verdadeiros que não entendo porque ainda não temos o
maior movimento fraterno do mundo. Ou será que temos? Trocar ideias hoje quase
não existe mais. A nossa estrutura é mais moderna, não precisa ouvir o que os
jovens ou mesmo os adultos pensam, não precisa consulta-los, pois os adultos
líderes pensam por eles e sabem o que eles querem. – Chefe! Não é verdade! –
Não mesmo meu amigo? Diga-me quando você mesmo sendo adulto foi consultado,
soube de uma pesquisa ampla geral e irrestrita realizada pelos nossos lideres
nacionais e regionais? Afinal temos um sistema representativo estatutário que
poucos têm o direito de votar. Votar eu disse, pois as decisões são tomadas por
meia dúzia sem consultar a ninguém. É como o imperador ou o rei que ao escrever
suas vontades só disse o seguinte: - Cumpra-se e quem discordar jogue-o na
Comissão de Ética ou diga a ele que peça para sair.
Quanto à patrulha que sonhei
dos grandes pedagogos, psicólogos e pensadores, humildemente sem comparação me
lembrei do meu primeiro curso da Insígnia da Madeira lá pelos idos da década de
sessenta. Feito na selva, aprender a fazer fazendo. Oito adultos de diversas
camadas sociais. Eu meninote dos meus vinte e dois anos. Dez dias de curso
tentando entender a psique de seus novos amigos. Primeiro e segundo dia,
sorrisos, abraços e deixa que eu faça para você! Terceiro e quarto dia: - Quem
é este cara? Só quer aproveitar... Não faz nada, um coça saco de primeira! – Quinto
e sexto dia – Acho que vou desistir. Estou me matando e ainda bem que fiz dois
amigos (eram oito). Sétimo e oitavo dia – Que tal um conselho de patrulha para
nos entendermos? Novo e último dia. Lágrimas por saber que iam se separar.
Promessas, agora amigos para sempre. Sei que amei o curso, pena que os que
continuaram no escotismo e eram poucos estão agora morando nas estrelas ou como
dizem por aí, no Grande Acampamento (Arre! Vou passar longe!) kkkkkk.
Mas
voltando aos sintomas do escotismo moderno, eu adquiri uma pequena experiência.
Pequena mesmo. Afinal foram somente 67 anos labutando aqui e ali, ouvindo,
sugerindo e vendo que os acertos foram menores que os erros. Aprendi que no
escotismo vale mesmo o exemplo. Os lideres da UEB dão um belo exemplo aos seus
pseudo comandados. Não vamos generalizar, mas as maiorias dos grupos são pequenos
feudos onde um ou dois dita às normas que dizem ser da UEB. Quando são mais
amenos e democráticos apoquentam os que chegam ou os que estão tentando ajudar fazendo
criticas e nem sempre ditas diretamente ao interessado. Conheço grupos com um
disse me disse que parecem comadres a falarem da vida dos outros. Conheço também
grupos onde a fraternidade existe para ser celebrada com palmas e palmas
Escoteiras. Ah! Formar jovens é de mentirinha? Que adianta fazer tudo sem dar
um bom exemplo para eles?
Tem
Regiões onde os lideres se aproximam e tentam ajudar nas mais diversas
dificuldades locais, mas tem outras que estão cheias de arrogantes, cheios de
si, se dando uma importância que a gente fica pensando: - E se ele tivesse um
salário? Claro que iria gritar para os chefes: Sabem com quem está falando? - Outro
dia entrei em meditação profunda. Utilizei a técnica da meditação
transcendental que Maharish Mahesh Yogi faz e que envolve o uso mental de sons
específicos chamados “mantras”. Tentei minha corneta, mas não deu certo. Eu
tinha um Chifre do Kudu e não deu resultados. Meu bumbo falhou
psicologicamente. Depois fui ver realmente o que seria mantra: - É um hino do
hinduísmo e budismo, dito de forma repetida para relaxar e induzir a um estado
de meditação, que se canta ou escuta. Corri até minha vitrola e coloquei o
Rataplã. Valeu, meditei bastante e acordei da meditação com um sorriso e pronto
a abraçar o mundo escoteiro.
Agora
podia ver melhor a patrulha dos grandes pensadores, psicólogos, pedagogos e
afins. Baden-Powell não seria eleito monitor. Afinal é um militar e poderia
fazer uma revolução ou uma ditadura escoteira. A turma da UEB detesta isto.
Militarismo never! E quem seria? Não
sei. Acho que B-P seria no máximo um intendente. Ele militar devia conhecer bem
isto nas casernas e guerras que participou. Sigmund Freud seria o sub. Tem cara
de sub, Platão seria o monitor? Ou seria Aristóteles? Melhor parar por aqui. É
duro formar uma patrulha. É duro formar uma equipe de chefes que se entenda por
anos e anos. Mas veja bem, isto tudo faz parte da humanidade, muitos sem
perceber ainda utilizam a velha máxima: - Um por todos e todos por mim! Risos.
E assim, as nuvens no céu vão passando, os ventos vão levando nossas
esperanças, e quem sabe irão surgir novas flores no campo onde os escoteiros
bons e cheios de amor acampam. Pois é a esperança é sempre uma dúvida, a Fé é
uma convicção e o Amor uma certeza. Teremos isto em meta? Chega por hoje.
“Afinal vivemos numa ilha chamada tristeza, rodeada pelo mar da saudade,
aguardando um barco chamado esperança para nos conduzir à terra da
fantasia”.