sexta-feira, 26 de maio de 2017

Esta terrível EVASÃO escoteira.


Conversa ao pé do fogo.
Esta terrível EVASÃO escoteira.

             Um foguito. Pequeno, achas finas como se não fossem permanecer muito tempo naquele gostoso anoitecer. Uma brisa vinda do norte, sons de um Sapo Cururu coaxando a procura da namorada. Uma chaleira de café, biscoitos e alguém trouxe batatas doces para assar. Conversas truncadas, conversas interessantes, causos, papos e prosas. Assunto? Escotismo é claro. Cada um com sua experiência, sua vivencia e seu tempo de escotismo. – Porque não crescemos? Silêncio no pedaço. Chefe Um toma seu lugar e diz: - Dizem que a culpa é do Chefe! – Ninguém diz nada. Chefe Dois pergunta: - Quanto tempo dizem isto e ainda não consertaram? – Todos calados.

             Chefe Três com seu ar de professor continua: - E a nossa direção não diz nada? Chefe Quatro sorri e emenda: - Dizer o que? – Todos calados. Parece que sabem os motivos, mas não tem autoridade para consertar. Autoridade? Quem tem? Um olha para o outro. Sem resposta, a resposta está na ponta da língua dos quatro chefes. Chefe Quatro toma a palavra: - Porque nossa direção ainda não se preocupou com este entra e sai? Como dizem mesmo? Evasão, rotatividade ou em inglês turnover? E ele completa como se todos ainda não soubessem: Turnover é um conceito utilizado na área de recursos humanos para designar a rotatividade de pessoal em uma organização, ou seja, as entradas e saídas por um período de tempo.

            Chefe Dois coça a cabeça e diz. Seria este o motivo principal porque estagnamos neste efetivo como se fosse uma sanfona de cresce e decresce? Chefe Um fala baixinho: - Uma vez li que nosso líder B.P acreditava que precisávamos de dez anos para dar toda a metodologia escoteira a um jovem. Alguém já soube se conseguimos pelo menos manter setenta por cento do nosso efetivo por pelo menos cinco anos? Chefe Um completa: - Cada ano mais e mais falam e dizem que temos um plano, ou melhor, projetos educativos e de longa duração para sanar tudo isto. Mas olhem nada acontece... Por quê?

            Chefe Três sorriu. Perguntou aos demais: - Quem realmente no Grupo Escoteiro se preocupa com a evasão? Qual sessão o Chefe tentou ver quais os motivos do entra e sai dos seus jovens? Qual Chefe quando sentiu a perda foi até a casa do jovem conversar e saber o que ouve? – Todos riram. Chefe Dois indiferente perguntou se o novo programa educativo era bem aceito pelos jovens. – Não seria este talvez a consequência da alta rotatividade escoteira? Afinal se o programa não é do meu agrado melhor ficar com meus amigos do bairro e jogar uma “pelada”! Todos ficaram pensativos, mas já sabendo a resposta.

            “Chefe Um na sua inocência pergunta: - Ainda existe o Sistema de Patrulhas”? Ainda existem as patrulhas de monitores? Ainda existem o treinamento ou adestramento dos monitores em separado? – Chefe Quatro levanta a mão interessado: - Melhor perguntar se existem ainda chefes que se preocupam com isto! – Um silêncio total. Chefe Dois no alto de sua sabedoria fala devagar e compassadamente: - Se a culpa é sempre do Chefe porque não dar a ele as armas certas para que ele possa atuar melhor na batalha da formação dos jovens?

            Chefe Um se levanta e diz de supetão: - Não vivemos pelo exemplo? Não fazemos o que aprendemos com os outros? Como pesquisar, como conversar e trocar ideias se nossa liderança não faz isto? Se até nos cursos somos uma manada que assiste sem poder nos manifestar? – Chefe Quatro sorri e completa: - Tens razão. Ainda desconheço os manuais de curso, mas pelo que soube a importância hoje é a utilização das novas tecnologias eletrônicas para impressionar mais! Muitas vezes o formador nem sabe onde pisa, segue a UD como se fosse uma leitura obrigatória. – Chefe Três falando baixo sem aumentar seu volume diz para todos: Palestras, falatório, parolagem, fórum onde só um fala. Chefe Um completa: E este nem sempre está preparado para palestrar...

              Se antes fazíamos tudo para que aprendêssemos a fazer fazendo onde isto foi parar nos Cursos Escoteiros? - Disse o Chefe quatro. Um silêncio total. Quem sabe o âmago da questão. Chefe Dois não mede a palavras para dizer: - Uma pena que aqui somos quatro e nossa voz e nosso saber só chega até onde o vento levar... – Chefe Um se levantou, mexeu na fogueira, a chama se elevou e ele sorriu. Servir e ser servido. Ou ser servido e não servir. – Chefe Três também sorriu. Ele sabia o que significava. Afinal nossa associação ainda não viu suas responsabilidades. Lembrou-se de Getúlio Vargas que disse um dia: - Para os amigos tudo, para os inimigos os rigores da lei.

              Lei? Que Lei? A lei do escoteiro? Chefe dois coçou a orelha. Pegou a chaleira de café e viu que estava quente demais. – Acho que estamos esquentando sem saber onde queremos chegar... Chefe Quatro cantou baixinho uma canção que ninguém conhecia: - Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri! – Chefe Um falou mesmo sabendo que não acreditava no que falava: - Dizem que novos ventos sopram na liderança, trocas de função, mais sorrisos e dizem até que agora serão mais transparentes. – Chefe Um sorriu como se não acreditasse. Sorrateiramente comeu um biscoito, bebeu uma golada do café quente e disse: - Sabe amigos, Abraham Lincoln disse certa vez que se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder!


              Nada mais disseram. Agasalhados em suas capas de fogo de conselho ali permaneceram sonhando que um dia, sim um dia todos iriam discutir conversar, trocar ideias e aprovar o que seria a opinião de todos. Cem mil? Duzentos mil? Sonhos impossíveis? Ainda haviam esperanças? Poderiam ver chegar este dia?

Quatro chefes, um foguito, um vento frio vindo da lagoa próxima. Agasalhados em suas mantas de Fogo de Conselho conversavam. Sabiam que a floresta iria fazer desaparecer todo seu saber. A lagoa iria beber tudo que conversariam ali. Suas palavras teriam o alcance dos ventos levados pela força do rio que caudalosamente corria para o mar. – Conversar, trocar ideias aprender e ensinar pode? Ou é melhor calar?