sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dirigentes Adultos no Movimento Escoteiro


DIRIGENTES NÃO UNIFORMIZADOS

Estou aproveitando as palavras do “Velho”, retiradas dos Fascículos Escoteiros e que devido ao seu valor atual, pode dar sem nenhum deslize, uma contribuição, ou seja, melhorar nossos conhecimentos de um tema que nem todos dominam plenamente.
Fiquem a vontade para comentar ou discordar, o importante é saber se estamos agindo corretamente e se estamos no caminho certo no rumo de um Grupo Escoteiro estruturado o suficiente para dar a todos as condições necessárias tão sonhadas por muitos.   

“A lei do carma é a força que leva todos os acordes a mesma tônica, que espalha as ondulações de uma pequena pedra largada em um remanso, até que ondas gigantescas afundaram um continente e muito tempo depois da pedra sumir e ser esquecida!”.
Esta é a historia de uma outra pedra, largada no remanso de um riacho que submergiu muito antes de os faraós do Egito empilharem uma pedra sobre a outra.
Os ensinamentos de Rajaste - O MAGO

CAPITULO I      

Algumas pessoas tem o dom de em casos de emergência, tomar atitudes rápidas e acertadas. Eu não. Não consigo retrucar na hora em que é necessária uma boa resposta ou mesmo decidir o melhor caminho a ser tomado em casos de emergências. Preciso de tempo para analisar e pensar no que fazer ou falar.
Sempre ouço aqui e ali, de atitudes corajosas tomadas na hora do acontecimento e até críticas de que outros não o fizeram. É muito difícil fazer e fácil analisar depois do fato.
Lembro-me que alguns anos atrás, eu estava em uma seção de cinema e alguém gritou - fogo!
Ouve um verdadeiro pandemônio. Vi em um canto da sala, rolos de fumaça. O cinema não estava cheio, mas havia mais de uma centena de pessoas. Poucos se preocupam em saber onde são as saídas de emergência quando entram. Na hora do acontecido, são brutalizados e empurrados como um estouro de uma boiada sem rumo definido.
É difícil pensar em tal situação! - Acredito que os heróis se preparam antes ou estão devidamente preparados aguardando o momento certo. Eu não sabia o que fazer. Fiquei em pé e via horrorizado a anarquia, os gritos, as crianças e mulheres em desespero. Minha preocupação no momento não era em me safar dali. Estava boquiaberto com tudo que estava acontecendo e fiquei desesperado não pôr mim, mas pelos outros!
Quando dei conta, a sala já estava vazia e alguns gritavam de dor e de desespero. Os funcionários já estavam a postos tentando apagar o incêndio e eu ainda estava ali, em pé, semi-paralisado sem saber que atitude tomar.
Alguém me pegou pelo braço e disse para não preocupar, pois o foco do incêndio havia se apagado. Não prestei atenção nele. Agora já sabia o que fazer! - Ajudar os feridos. E assim o fiz.
Tinha conhecimento de primeiros socorros e pude colaborar bastante. Era mais um anônimo que no final chega à conclusão qual decisão tomar. Mas demorou. Poderia ter morrido ou quem sabe ser mais um do salve-se quem puder. 
Demoro em tomar decisões. Assim como eu, acho que muitos também. Não sou herói e nem estou preparado para tal. Naquele momento não preocupei com minha vida porque não sabia o que fazer. Outros não. Primeiro pensaram em si. Acho que tivemos heróis gritando e orientando para que todos tivessem calma e ajudando mulheres e crianças.
Eu sou assim e tenho que aceitar as pessoas como elas são. Isto faz parte da minha atividade no movimento Escoteiro. 
Já tinha conversado com o "Velho" a esse respeito. Não adianta dizer que temos de fazer “assim e assado“.  A realidade está presente em nossa vida, no Grupo, Região e na própria Direção Nacional. Ou aceitamos ou insistimos em nossos ideais ou nos afastamos.
Cada um tem sua maneira de ser, de pensar e agir.
Ele me dizia sempre que não importa o cargo. Importa o que está sendo feito, mesmo que leve tempo.
- Nós dependemos de todos - dizia - O Grupo Escoteiro é como uma grande família. Cada um tem suas obrigações e responsabilidades. Se ali os adultos tem amizade e fraternidade entre si, os jovens receberão um ótimo escotismo e garanto que este Grupo vai no caminho certo.
Conheci Grupos que não iam bem. Muitas divergências entre novos e antigos. Os Escotistas achavam que os Diretores eram pessoas que estavam ali para servi-los. Este pôr sua vez, tinham dúvidas de suas responsabilidades, (tão simples), pois sempre confundiam técnica escoteira com atividades burocráticas ou paralelas. O Método e Programa não eram bem conhecidos entre eles e os que podiam informar não o faziam. Durante algum tempo aceitavam a liderança e depois se afastavam.
Outros mais interessados deixavam suas funções de dirigentes e participavam como Escotistas. Achavam que a falta de bons chefes poderia ser suprida, pois o elemento humano qualificado não existia e se havia interesse porque não participar?
A partir do momento que começavam a aprender e conhecer melhor nosso movimento e se convidados a participar de atividades nas sessões escoteiras, mais se entregavam a tarefa e em breve espaço de tempo já eram bons educadores.
O movimento precisava deles e eles sentiam isso. Isto era bom, mas perdia-se um membro cujas tarefas na executiva poderiam estar sendo bem executadas e a substituição não ia ser fácil. De qualquer maneira, acho que sem eles, nosso movimento hoje seria bem menor do que já é.
Era comum encontrar nas lideranças distritais, regionais e nacionais, adultos com um, dois até cinco anos de movimento advindos da comunidade, através dos filhos ou dos amigos e muitos deles com ótima disposição para o desenvolvimento do Escotismo, sobressaindo-se sobre os demais pelo seu entusiasmo e vontade de acertar.
Aprendi a respeitá-los e aceitá-los como eram. Se cada um faz sua parte corretamente, o elo da corrente fica mais forte e tende se fortalecer ainda mais. Só achava e ainda acho que a dificuldade de encontrar um bom Escotista era a mesma para um dirigente não uniformizado.
Participei de muitas reuniões de Executiva em todos os níveis. Na maioria dos casos sempre se voltavam para o Chefe do Grupo, tentando achar as respostas ou seu apoio ao trabalho que realizavam.  Acreditava que nós os Escotistas sabíamos tanto ou menos daqueles que como diretores executavam suas funções conforme determina o POR. Podíamos é claro talvez sugerir como manter os assuntos, mas nunca termos a última palavra naquele determinado tema.
Muitos dirigentes não uniformizados se entrosam facilmente ao grupo, aceitam suas posições e são freqüentemente elogiados por todos.
A Direção Nacional creio após estudos diversos, resolveu modificar isto. Deu ao Chefe do Grupo a função de Presidente ou Diretor, nome pomposo que se sobrepõe aos demais na Executiva (diretoria). Alguns concordaram outros não. Mas tornou-se um fato, sem regressão. Não comunguei com a idéia.
Acreditavam que faltava uma melhor compreensão das responsabilidades e deveres de cada um e vendo que grande parte dos grupos, o chefe do grupo era o líder natural porque não mudar. Tenho meus direitos e deveres, mas todos que colaboram na organização também os tem. Vi diversos grupos cujas executivas funcionavam muito bem. Sem que os diretores precisassem procurar junto aos Escotistas, as respostas que precisavam.
Quando não tinha nada o que fazer no Grupo que prestava a minha colaboração, gostava de observar não só os jovens, mas os pais e parentes que acompanhavam seus filhos as reuniões e podia observar o interesse deles.
O Escotismo é interessante. Você nunca ouviu falar e quando ouve não se interessa muito (os leigos). No entanto se observar e participar espontaneamente pôr algum tempo é picado pelo mosquito invisível e basta um convite e lá está você, fazendo a promessa e vestindo o uniforme, tentando dar o melhor de si.
Eu era um deles. Ou seja, alguém que observou foi membro da executiva e convidada não pestanejou. Aceitou e hoje é um assistente de tropa sênior. Isto aconteceu há mais de oito anos.
Estou participando até hoje. Não sei se o "Velho" tem culpa no “Cartório”, mas ele é um dos responsáveis pela minha permanência. Não sei se estaria ainda no movimento se tivesse permanecido na executiva somente.
Não posso dizer que sou um Chefe com todas as condições. Atuei somente como assistente em tropa escoteira e agora estou colaborando com os Seniores.
Minhas conversas com o "Velho" tem ajudado, mas sinceramente, fico de “Cuca” cheia pensando em tudo que ele me fala. Estou à espera dos resultados. Já vi alguns. Poucos é claro, mas quem sabe pode servir para mim como exemplo para melhorar.
Como ele diz tudo é válido, se os resultados esperados são alcançados. Infelizmente sou obrigado a dar razão a ele em alguns pontos. Os resultados não tem sido dos melhores, mas devemos confiar. Acho que ainda falta um trabalho melhor a ser realizado junto aos membros da Comissão Executiva.
Fica para outro fascículo.

 
“Tem gente que é um gansinho no modo que vai atrás,
dos outros que vão à frente - nem sabe para onde vai...
Nas pisadas do pai ganso, vai pisando o filho atrás!
Ele nunca fará nada que não tenha feito o pai!.
                                                    B.B.VALENTINE

FINAL

A reunião começava no seu horário habitual. Eram três Diretores e quinzenalmente se encontravam para manter a rotina mensal e verificar dentro de suas responsabilidades o desenvolvimento do Grupo Escoteiro. 
Um deles, antigo Escotista, sentia falta do passado, quando naquela sala estavam presentes até mais de oito membros. Infelizmente, a realidade era de que três funciona melhor do que oito. Nem sempre estavam todos e é claro que o pequeno número sempre aumentava a quota de cada um e eram poucos os que realmente trabalhavam. 
Era um tédio a reunião. Cumpriam o horário, discutiam alguns itens apresentados pelo Conselho de Chefes (ali sim, a reunião valia a pena), verificavam e providenciavam as correspondências dos órgãos superiores , conferiam a contabilidade, escreviam uma ata e até a próxima quinzena!. Um dos participantes meu amigo, reclamava da rotina e me dizia que eu era um felizardo, pois junto aos jovens tinha tudo para me motivar.
Na semana anterior ao descer uma escada na Empresa onde trabalho, escorreguei e tive uma luxação no joelho. O médico resolveu engessar. Isso me obrigava a ficar “hibernado” em minha casa, sem poder sair e recebendo algumas visitas dos amigos do trabalho e do Escotismo.
Eis que minha esposa abre a porta e aparece o "Velho", empurrado pela Vovó, querendo mostrar desinteresse na visita, mas seus olhos brilhavam ao me ver e eu tinha certeza que sentia minha falta, das nossas conversas até a madrugada.
Ele não me visitava freqüentemente mas de vez em quando aparecia. Minha esposa adorava o "Velho" e a Vovó e só não gostava do seu cachimbo. Quando ele chegava ela franzia a testa pois sabia que dali a pouco a sala estaria empestada da sua fumaça infernal.
Sentou-se na minha poltrona favorita e como ele era visita não falei nada (sempre fazia assim para me provocar). Olhou de soslaio meu joelho engessado, balançou a cabeça e disse:
 - “para um chefe escoteiro, você é um moleza!”
Sorri sem retrucar e ele continuou:
- Se você tivesse sido Escoteiro isso não teria acontecido. Faz parte desta nova safra. - Pegou seu cachimbo cujo fornilho já estava cheio e começou a soltar suas baforadas favoritas.
- Não que eu tenha nada contra com vocês (os novos) - continuou - e inclusive até admiro a força de vontade que são possuídos. Não sei por que tenho uma certa admiração pelo seu trabalho (falou com enorme esforço!) e sinto que pessoas assim fazem muita falta ao Movimento Escoteiro.
Até que enfim! - eu ouvi do "Velho" um elogio. Custou!
- "Velho", - falei - Sempre comentamos a este respeito e sua opinião não é bem clara. Costuma deixar claro sua preferência pelos que participaram como jovens na atuação em sessões e outras vezes diz que os novos são bem vindos.
- Boa pergunta! - falou o "Velho" – Vamos falar a respeito e quem saber posso dar uma explicação mais clara.
- O Escotismo não pretende e não é uma escola de chefes. Seu principal objetivo é a formação do caráter. Isto não significa que aqueles que não tiveram a oportunidade de terem sido escoteiros não o possuam. Muitas famílias, escolas e organizações similares dão esta formação até melhor do que o Escotismo.
- O que digo sempre é que já conhecemos os adultos advindos do movimento e os demais não. Tive a oportunidade de conhecer centenas, talvez milhares de adultos que incentivei e adestrei para atuarem como Escotistas.
- Muitos deles hoje estão ainda participando e outros saíram. Infelizmente alguns metem os pés pelas mãos mas são minoria. Outros dão excelentes contribuição.
- O convite deve ser feito sempre que temos algum conhecimento de sua formação e interesse. Importante, porém que deve ser acompanhado de uma investigação rigorosa. Isto se aplica mais aqueles que não tem filhos no grupo ou vínculo com outro Escotista ou dirigente. Claro que se isto for uma rotina não haverá motivo de desconfiança ou suspeita pôr parte do candidato e sim uma certeza de que somos um movimento sério, trabalhamos com jovens e todo o cuidado deve ser tomado para evitar erros no futuro. O investigado deve compreender e até elogiar tal atitude.
- Todo os Grupos deveriam ter uma planilha para uma investigação cuidadosa, apesar de que o POR é bem claro a este respeito. Mas a necessidade é tanta que alguns não se preocupam e é desses que aparecem algumas figuras na liderança de um ou outro órgão que em vez de ajudar estão atrapalhando e forçando situações muitas vezes absurdas. O movimento perde com isso! 
- O adulto que quer participar como Escotista, deve saber que tem um caminho longo pela frente. Ele não pode ficar sem o adestramento básico e não basta os Cursos de Adestramento para nivelá-lo aos demais que vieram do Escotismo. As facilidades hoje são tantas, que em alguns casos ele recebe a Insígnia em um ou dois anos, sem ter o mínimo necessário (tecnicamente falando) para dirigir uma sessão.
- Não pretendo comentar agora esse assunto, mas a maneira com que a parte três da Insígnia é feita, está sujeita a erros e muitas vezes aprovando pessoas sem condições e isso pode ser comprovado pela sessão ou órgão que o candidato dirige. Claro, torno a repetir, existem exceções e muitas.
- Veja o seu caso, durante estes anos montou em sua casa uma bela biblioteca escoteira e conhece talvez muito mais que alguns outros que vieram do Movimento .
- Tem participado de todos os cursos que pode ser inscrito (apesar de algumas regiões não aceitar) e eu assino em baixo a sua participação. Procura conversar não só comigo mas com todos. Conhece de cor e salteado os três livros básicos do fundador e não tem outros interesses a não ser colaborar com os jovens. Tem feito o melhor possível para melhorar sua parte técnica, pois esta é básica do adestramento e os jovens devem saber que seus chefes tem estas qualidades. Recebeu sua Insígnia e corresponde.
- Soube inclusive que foram feitos diversos convites para colaborar em outros cargos no Distrito e Região e não se interessou. Não é um “carreirista” como alguns que conheço. Sabe do seu valor e até hoje está como assistente de tropa e satisfeito com o trabalho que realiza. Isto tem validade. Como você, deve ter muito outros.
- Procure saber se altos executivos de empresas de porte cujo destaque na imprensa e na vida nacional, principalmente aqueles que foram escoteiros quando jovens, porque não contribuem de uma forma ou de outra com o movimento. Eu mesmo conheço alguns que se mantém distantes. Porque isso? - É uma boa pergunta para os nossos dirigentes atuais.
- Olhe na política nacional. Alguém de fora do movimento está preocupado com o desenvolvimento do Escotismo? - Ele não é um movimento excelente para desenvolver a cidadania, Não traz dividendos na educação extra-escolar, espírito de iniciativa, pois é sem sombra de dúvida um movimento superior a qualquer outro, Temos uma metodologia sem igual, e poderia ser uma solução dos problemas que afligem nossa juventude, e é completamente esquecido e subestimado. Conheço um ex- Presidente da Republica que em épocas áureas foi presidente de um distrito Escoteiro. Não sei se foi procurado ou se interessou em ajudar o Movimento Escoteiro.
- Temos vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, vários que participaram do movimento. Porque não colaboram conosco? - porque não fazem proselitismo sabendo do valor do movimento?
Nós sabemos a resposta. Infelizmente ela é bastante crua e muitos não aceitam. Estamos com alguns dirigentes bons, outros razoáveis e que infelizmente pôr falta de expressão junto à comunidade política nacional não podem ou não conseguem fazer o proselitismo que seria necessário ao nosso desenvolvimento. Para eles, somos um movimento menor, infantil na sua maneira de ser, e desconhecem sua essência e finalidade.
- Quem sabe não temos executivos a altura para “vender o produto” e ficamos eternamente na dependência da boa vontade de um ou outro, que pôr natureza tentam a sua maneira mostrar o Escotismo com planos que nem sempre condizem com a realidade.
Mas é preciso saber que também precisamos e muitos de adultos, que não vão vestir o uniforme e que poderão trazer uma enorme contribuição, desenvolvendo dentro do grupo a parte que lhes é confiada.
Fiquei pensando no que o “Velho” disse, e quando fui retrucar não o vi mais, tinha ido para o meu quarto e sem pedir ou perguntar, estava dormindo na minha cama a sono solto.
Acho que não tinha mais o que dizer, os dirigentes não uniformizados tinham uma importância enorme para o Grupo Escoteiro. Dependia de nós mantê-los unidos ao grupo e dar o devido respeito a tudo que faziam.                                                                                              

                  O. PATA...TENRA...