sábado, 17 de dezembro de 2011

COEXISTÊNCIA PACÍFICA - UMA UTOPIA?


Coexistência pacífica – Uma utopia?

Se voce não se entende com seu chefe Escoteiro ou com algum órgão escoteiro, meu conselho é esse: - Convidá-lo para uma contenda duelística, cada um escolhendo como arma um barril cheio de pólvora, estopins do mesmo tamanho irão sentar cada um no seu barril, fogo no estopim e quem ficar e explodir, ganha o duelo e a mão da mocinha

Há duas maneiras de estudar borboletas: perseguí-las com redes e inspecionar os organismos mortos ou sentar-mos em silencio e observá-las dançando entre as flores!
Nongnuch Basham

           Um tema dificil de ser analisado. O mundo não é o melhor exemplo. Gandhi dizia: - Aprendi através de experiência amarga a suprema lição: Controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo. Sei que os problemas nunca podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento de quem os criou.  

         A fraternidade é um conceito filosófico profundamente ligado às ideias de Liberdade e Igualdade e com os quais forma o tripé que caracterizou grande parte do pensamento revolucionário francês. Vale lembrar que dos três, foi o único que não esteve no lema  Iluminista, que era "Liberdade, Igualdade, Progresso". Esta maneira de ver a fraternidade ainda não foi assimilada totalmente. Principalmente por nós escoteiros.

         A idéia de fraternidade estabelece que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas.
         A fraternidade é expressa no primeiro artigo da Declaração universal dos direitos do homem quando ela afirma que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
        Nós escotistas e escoteiros dizemos com orgulho que a nossa fraternidade é exemplar. Mas será mesmo? Tenho acompanhado através de emails e contatos com amigos de diversas partes do país, que as discrepâncias, dissidências, ressentimentos ainda habita no coração de muitos. Isto tem levado a ressentimentos ou mágoas. Toda vez que alguém ou algo se choque com o bem-estar de outra pessoa, com o seu prazer, irá imediatamente produzir a chispa da raiva. Esta poderá abrandar-se logo ou atear incêndio, dependendo da área que tenha atingido.
          A raiva é a reação emocional imediata à sensação de se estar sendo ameaçado, sendo que esta ameaça possa produzir algum tipo de dano ou prejuizo. Mas porque estou entrando neste caminho? Muito simples. Estamos perdendo muitos adultos ou mesmo jovens, que pensando encontrar aqui uma fraternidade viram que nem todos procedem desta maneira.
       A ingratidão e a calúnia ainda fazem parte do orçamento moral da humanidade, e não há quem não se depare com elas em algum momento. Dependendo da pessoa autora do disparo, do lançamento do dardo, este parece penetrar o mais profundo da alma, produzindo enorme sofrimento. Muitas vezes, aquela pessoa em quem nos mais confiávamos nos trai, nos decepciona, nos fere, e a dor então é perfeitamente natural.
        Ainda bem que não são todos, a maioria dos membros escoteiros ainda são puro nos seus pensamentos, palavras e ações. Temos ainda uma gama de escoteiros e escotistas, que ama e valoriza o que faz e o que vive. Não se magoa facilmente e tampouco fica irado com qualquer palavra descabida. Desta forma eles trabalham pelo desenvolvimento de sua auto-estima e isso é o melhor antídoto para evitar o acúmulo de lixo mental dos ressentimentos e mágoas.

      Perdemos a cada ano,  muitos irmãos que aqui estão e isso tem levado prejuizo ao nosso crescimento quantitativo. Não digo até no qualitativo. Mas o que tem acontecido, de alguns anos para cá é que a intransigência está sendo marca registrada em nosso movimento Escoteiro. Isto não acontecia no passado e se havia ressentimentos eram poucos. Lembro-me de um filósofo que disse: - De todos os ressentimentos, creio que o maior seja aquele de um homem que saiba fazer a sua arte com perfeição e seja censurado e avaliado por alguem que não sabe absolutamente nada.
     Muitos de voces que estão lendo este artigo, ainda não sabem que varios organismos ou associações Escoteiras, de caráter nacional estão sendo organizadas no Brasil. Algumas em pleno funcionamento. Não discuto os direitos da UEB, as leis que a protegem, mas a democracia tem nos ensinado que não somos os donos da verdade, e todos tem os mesmo direitos em um regime democrático. Se resolveram por desentendimentos, ou por ideal, ou seja, por qualqur outro motivo, até entendemos. Isto acontece em boa parte do mundo. Nenhum país está imune a divisão e escolha pessoal.
     Seria bom se as diferenças de opiniões não suscitassem inimizades nem ressentimentos. Infelismente isto não acontece. Já temos inúmeras organizações escoteiras, em plena atividade no território nacional. Só para se ter uma ideia, abaixo relaciono algumas todas com o mesmo espírito Escoteiro, mas a maioria por ressentimento ou cisão com nossos orgãos diretivos. Uma boa parte, no entanto, surgiu espontaneamente e com grandes ideais elevados.
- Federaçao dos Escoteiros Tradicionais – FET
- Corpo Nacional de Escoteiros – CNE
- Associação Escoteira Baden Powell – AEBP
- Organizaçao dos Escoteiros Florestais.
- Associação Escoteira Athenas Maranhensis.
Cito ainda – Federação das Bandeirantes do Brasil e Associação dos Desbravadores do Brasil, ambos antigos, mas sempre houve ramificações com o escotismo de BP no passado.
(Pedi e recebi de duas delas, um relatório de suas atividades, como as demais não se manifestaram, deixo de colocar aqui seus objetivos e a que se propõe)
       Acredito que tem muitas outras ainda em fase de crescimento. A cada dia alguém resolve criar a sua. Seria isso saudável? Claro no ponto de vista Escoteiro? Vejam bem, se levarmos em conta seu crescimento (saudável, aliás) todas juntas já devem passar dos 20.000 membros. É um número hipotético. Não tenho os numeros reais. Mas a divisão nem sempre trás os resultados esperados. A UEB mantem com uma delas, um processo em andamento. Se apega no seu direito as leis e decretos do passado. As razões de um lado ou outro não é meu intuito discutir aqui. Ainda me mantenho neutro nesta questão, mas sabendo como procederia se fosse aquele que tivesse a liderança nas mãos.
    Repito aqui o que uma destas associações comentou sobre o surgimento e o porquê da idéia. – (escrito pela AEBP) Como tudo na vida, há vantagens e desvantagens nesta fragmentação da prática do Escotismo. Vemos isso como se fosse um mercado que antes era monopolizado, centralizado, regulamentado e dogmatizado. E que agora está sendo aberto trazendo a livre opção de escolha, e uma proposta de trabalho com possibilidades de melhores adequações a segmentos específicos da sociedade. Agilidade na administração e custos diferenciados.
    Não vou me estender mais. Tenho amigo em todas elas. Trocamos emails, conversamos, e salvo um ou outro comentário, aceito de bom grado a convivencia com todos eles. Gostaria mesmo, e torço por isso que no futuro façam como diversos paises, que já estão se sentando a mesa e discutindo pontos de vista, ou mesmo formar um só órgão Escoteiro. Se isso é válido ou não, tenho dúvidas. Repito apesar de não ter registro me considero da UEB.
    Precisamos repensar o que estamos fazendo. Precisamos chegar mais perto do escotista, do Escoteiro, sem aquela auréola de primeiro mandatário. A humildade é a força que rege nosso movimento. Mão tse-Tung, apesar de ser quem foi, dizia que devemos nos guardar da arrogância. Isso constitui uma questão de principio para os dirigentes, mas é também uma importante condição para manter a unidade. Nem mesmo aqueles que não cometeram erros graves e conseguiram grandes êxitos no trabalho devem ser arrogantes.
     O maior lider é aquele que reconhece sua pequenez, extrai força de sua humildade e experiência da sua fragilidade já dizia Augusto Cury. Devemos ser humildes, pois até o sol com toda sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar. Alguns já me disseram que fazem isso, sua parte é considerar que estão alí para ajudar os rapazes e moças no seu crescimento. Este artigo não é para eles. É para meditarmos o porquê hoje estão tantos lutando pelo mesmo ideal, mas em lados contrários.
   Até quando isso é bom eu não sei. Para dizer a verdade o titulo do meu artigo não faz juz a muitos que vejo por aí. Coexistência pacífica. Ainda não existe em seu todo. Agressões ainda acontecem. Discordancias idem. Um amigo, grande irmão Escoteiro me enviou um artigo pequeno, muito interessante, que não deixo de colocar no final das minhas palavras:
- Um escotista recebeu a noticia de que iria receber sua Insígnia de Madeira. Ficou tão eufórico que quase não se conteve. Serei um grande homem agora – disse a um outro escotista.
- Preciso de um novo uniforme imediatamente. Que faça jus a minha nova posição na sociedade, no Grupo Escoteiro e em minha vida.
- Conheço um alfaiate perfeito para voce – replicou o amigo, um IM há muito tempo. – Ele o alfaiate é um "Velho" sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço.
- E o novo futuro IM foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas.
- Depois de guardar a fita métrica, o sábio alfaiate disse: - Há quanto tempo o senhor é IM?
- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu uniforme? – perguntou o cliente surpreso. – Não posso fazê-lo sem obter esta informação senhor. É que um IM recém fica tão deslubrado que mantem a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito! Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás.
- Anos mais tarde, continuou – Quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da experiencia o tornam sensato, olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir. Aí então eu costuro o uniforme de modo que a parte da frente e a de trás tenham o mesmo comprimento.
- E mais tarde, depois que está curvado pelos anos de trabalho cansativo e pela humildade adquirida através de uma vida de esforços, então faço o uniforme de modo que as contas fiquem mais longas que a frente.
- Portanto, tenho de saber a quanto tempo o senhor foi nomeado para que a roupa lhe assente apropriadamente.
E o novo futuro IM saiu da alfaiaria pensando menos no seu orgulho e mais no motivo que levou seu amigo a mandá-lo procurar aquele sábio alfaiate.

      Coexistencia pacífica. Será que conseguiremos um dia? Outro amigo já me dizia que somos voluntários, não temos salario e ainda somos arrogantes. Ora, ora e se tivessemos um bom salário? Diramos sem sobra de dúvida: Sabem com quem está falando? E ainda tem aqueles que se tornaram dono de tudo, só dizem meu Grupo, meus chefes, minha tropa, minha alcateia, meu monitor, meu lobinho. Acredito que esse pelo menos deve ter pago a vista e não a prestação. Acho que tem direito em dizê-lo.

     Mas eu acredito na fraternidade. Ainda fico feliz em ver moças e rapazes sorrindo, tendo sonhos, sabendo que são queridos e dizendo uns para os outros nos grandes acampamentos da vida – Olhe, nunca vou te esquecer! Aconteça o que acontecer, seremos irmãos de sangue para sempre! Quem sabe eles, o nosso futuro, quando estiverem na liderança, não serão os primeiros a dizer: -  Venham todos, aqui no alto desta montanha da felicidade, iremos fazer a indaba do amor. Aqui só iremos falar como irmãos e assim vamos criar a maior fraternidade escoteira e dar o exemplo de que não existe a utopia do impossível entre nós escoteiros.

Se as coisas são inatingíveis?...ora! não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas!

Mario Quintana