sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O ESCOTEIRO QUE LUTA SÓ


Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças! 
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas; 
Apenas as mesmas com novas vestimentas.


O ESCOTEIRO QUE LUTA SÓ

        Não, o título não devia ser este. Foi plagiado. Acredito que pouco tem a ver com o artigo que estou escrevendo. Mas me lembrei de um filme. Um "Velho" western. Um pistoleiro capturado por um caçador de recompensas, rumo a Santa Cruz, numa viagem cheia de aventuras. O "Velho" Randolph Scott, bem dirigido por Budd Boetticher. O titulo real era - O Homem que luta só.

        Eu digo para mim mesmo que não preciso voltar no tempo para viver o que deixei para trás, mas posso viver neste momento o que realmente quero viver. Será verdade mesmo? Amigos me dizem – Esqueça o passado, ele não volta mais... Entenda que o único lugar onde ele ainda vive é em sua mente. Fora dela ele não é nada, não acrescenta nada!

        Não sei. Ainda afirmam para mim que eu mudei, o mundo mudou e as pessoas são totalmente diferentes! É possível. Mas... muitas vezes me vejo lembrando de um monte de coisas que deixei para trás e bate aquela vontade de voltar, de querer viver momentos felizes do mesmo jeito que era antes, mas não dá!

       Hoje é um dia de lembranças, de nostalgia... Estou a ver e ouvir as lindas histórias que a minha Akelá contava... A caçada a Shere Khan, quando Mowgly fez sua promessa, para a paz do seu povo, de akelá e da Alcatéia..., ali estava eu, nos meus oito anos, a olhar para ela, dar uma piscadela para o Balú para Bagheera, e esquecer que Kaá não estava ali. Eram historias maravilhosas! Eu ficava encantado! Era como se fosse a historia das mil e uma noites...
- Falaram para você que estes nomes do jângal poderão desaparecer? Apesar de comentarem comigo acho que não. Se isto acontecer, você vai receber... Um ofício, ou uma resolução ou um...

- Mas, você será consultado? Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Estou agora em frente ao fogo. Ele ainda me aquece. Está se extinguindo aos poucos... Aqui e ali, pequenas fagulhas sobem languidamente aos céus, mas logo desaparecem. O cheiro da terra, traz o perfume conhecido do "Velho" mateiro. O céu está estrelado. Satélites e cometas riscam os céus. Um espetáculo!  Os pássaros noturnos gorjeiam aqui e ali. Ao longe o espírito da coruja pia em um grande carvalho. Os membros da patrulha já se recolheram. Ficamos eu e mais dois. Estamos calados, admirando tudo aquilo. As vozes, as canções, as brincadeiras não existem mais. Agora são lembranças que pululam na mente como fantasmas amigos. O sono vem... É hora de dormir... É..., será que isto também não vai desaparecer? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber... um ofício, ou uma resolução ou um...

- Mas, você será consultado? Não, você não decide. Você não vota.

     Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Andamos uma boa trilha. As mochilas as costas pesam. Já não cantamos mais. Alguns em fila, outros mais espaçados conversam entre si. O sol está a pino. Mantemos ainda nosso uniforme intacto. Ninguém nos vê, mas nossa honra, nossa palavra e nossa lealdade não nos permitem tirar alguma peça. Avistamos ao longe uma grande árvore. Frondosa. Uma sombra enorme! Próximo, um riacho de águas límpidas e calmas. Colocamos a mochila ao pé da árvore. Um bom descanso. Tiramos o calçado. Com os pés na água, “que gostoso!”. Olhamos em volta. Um lindo campo, muitas flores silvestres. Ao longe, a montanha aonde o sol vai se por. É um dia maravilhoso! Ainda temos uma boa caminhada. Pé na estrada que a patrulha tem o que fazer e chegar ao acampamento... É, será que isto também vai desaparecer? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber... um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas, você será consultado?  Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... A caminhada noturna nos leva ao cume da montanha. As nuvens baixas não nos deixa ver o horizonte. O dia vai amanhecendo. Aos poucos aqui e ali, pequenas aberturas. Outras montanhas. Lá ao longe uma pequena cidade. É o alvorecer. Agora estamos vendo muito além. Que espetáculo! Estamos sentados em uma grande pedra, admirando a vista. Valeu a caminhada, a pequena escalada. A patrulha sorri satisfeita. São seniores que gostam e tem o espírito da aventura. O ar limpo, a brisa gostosa, pequenas gotas de orvalho ainda nas flores do campo. Ali, perdidos em seus pensamentos eles sabem e tem a convicção de que Deus está no controle de tudo. É, será que isto também vai desaparecer? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber... Um ofício, ou uma resolução ou um...                                                                                                                                                                                                                      
Mas você será consultado? Não, você não decide. Você não vota.
     
 Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Hoje é o dia que receberei a Primeira Classe. Parece diferente quando recebi a Segunda Classe no ano anterior. A tropa está reunida e o Chefe Orgulhoso. Faz um mês que fui aprovado em minha jornada! Não foi fácil. Mas valeu! Existe alguém mais feliz que eu? Claro que sim. Quantos milhares de jovens também receberam antes?  Estou sorrindo, a tropa sorri. O Chefe está orgulhoso! Não sei o que serão dos escoteiros do futuro. As provas de classe não existem mais. Desapareceram como uma folha solta ao vento . Substituído por outros nomes estranhos! Tudo em nome da evolução de uma nova era. Já aconteceu! Acredito que você deve ter recebido... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas, você foi consultado? Não, você não decide. Você não vota.

       Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Recebi das mãos do meu monitor o Bastão Totem da Patrulha. Ele agora foi para Tropa Sênior. Fui eleito monitor. Olhei o Bastão. Que orgulho! Ali estava a bandeirola da Águia no topo. Conhecia todas suas marcas. A data que foi feita há dez anos. Das especialidades que durante muito tempo os vários membros da patrulha alcançaram. Dos acampamentos que ele esteve presente. Muitas outras que não vou citar agora. Olhei para a patrulha, levantei o bastão com honra e demos o grito: Anauê! Abaetetuba, Nanbiquara, somos da patrulha Águia! Anrê! Anrê! Anrê. É, será que isto também vai desaparecer? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas, você será consultado? Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Eu e a patrulha Itatiaia estávamos em uma floresta, bem densa, junto com um Chefe antigo, mateiro dos bons, aprendendo... Ele falava baixinho, olhando para o alto das árvores, mostrando e imitando os animais, insetos e pássaros da floresta. Sabem? A Águia crocita ou grasna. A Andorinha chilra chilreia. A Arara grasna, parla, taramela. A abelha zoina, zoa, zonzoneia. O Beija-flor arrulha, rufla. O Besouro zoa, zumbe. O Bezerro berra, muge. O Canário canta, gorjeia.  A Cigarra canta, chia, cicia, cigaarreia.  A Cobra sibila, assobia, chocalha. O Coelho chia, guincha. A Coruja pia. O Crocodilo Chora.
E nós ficamos ali, sentados, na grande barraca coberta pelas folhas das árvores, vendo aqui e ali, uma nesga do sol. Encantados, aprendendo com a floresta. É, será que isto também vai desaparecer? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você será consultado? Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Estou em meu quarto. Arrumando minhas tralhas. Vejo o meu chapéu com três bicos, meu orgulho, abas largas, meu lenço bem dobrado, meu anel engraxado. Vejo meu cinto no ponto com as fivelas de metal brilhando. Minha calça curta caqui e minha blusa estão bem passadas. Meu meião cinzento com listras perfeitas bem dobradas. Meu calçado preto limpo e bem apresentado. Ao lado, minha mochila limpinha. Meu cantil, minha faca que suei para conquistá-la e minha machadinha pequena que me faz muita falta. Meu cabo de 5 metros, bem enrolado a moda escoteira. É, será que isto também vai desaparecer? Ou já desapareceu? Não sei. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Se isto acontecer, você vai receber ou já recebeu... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você foi consultado? Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Estou chegando ao ponto de reunião onde farei meu primeiro curso escoteiro. Será um CAB. Dezenas de novos amigos. Cinco dias maravilhosos. Um adestramento técnico e teórico de ótima qualidade. Diretores esforçados, vindo de diversos estados. Muitos outros virão. De novo o Curso da Insígnia da Madeira parte II. Oito dias. Novamente dirigentes capazes. Um adestramento nunca esquecido. Viverá na mente de todos para sempre. É, isto também desapareceu. Condenaram a palavra adestramento. Coitada. Agora é formação. Novo estilo, mais moderno, mais educativo. Os nomes mudaram. Acreditam que agora os adultos terão melhor formação que no passado quando era Adestramento. Em nome da evolução e do perigo foi alterado. Já aconteceu. Você deve ter recebido... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você foi consultado? Não, você não decide. Você não vota.

      Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Aquele "Velho" escotista veio visitar seu grupo onde viveu lindas aventuras no passado. Pergunta pelo chefe do Grupo, dizem que só tem Diretor, pergunta pelos chefes, dizem que só tem formador, pergunta pelas tropas, dizem que só tem sessão. Pergunta quando será o Conselho do Grupo, dizem que só tem Congresso. Ele está em duvida.  Quem sabe já é Núcleo Escoteiro e não Grupo Escoteiro? Será que era seu Grupo do passado, ou mudaram para ali, outra organização, um partido político, um sindicado, uma ONG? É, isto aconteceu. Em nome da evolução e do perigo quem sabe. Você por certo já recebeu...um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você foi consultado? Não, você não decide. Você não vota.

       Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Ele, o antigo escoteiro lembra-se dos milhares de amigos que fez, do escotismo do passado, e lembra com saudades quando eram mais de 45.000 registrados, somente jovens masculinos. Lembra das dificuldades da época, da falta de meios de comunicação, e de muitos grupos que não fizeram o registro. Lembra quando maravilhosamente abriram para as jovens, quando aqueles sorrisos fascinantes brotavam nas atividades várias. Acredita piamente que o numero deve ter sido aumentado. Talvez já sejam pelo menos uns 100.000 registrados. Fica sabendo da taxa, acha alta, mas quem sabe como o advento da nova classe média, isto deve ter sido resolvido. É, isto é a realidade. Em nome da evolução e do perigo o numero dos últimos dez anos é quase o mesmo. Você por certo já recebeu um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você foi informado mesmo? Não, você não decide, não vota, não participa das decisões.

       Hoje é dia de lembranças, de nostalgia... Ele, o antigo escoteiro tenta se informar, quanto são os escoteiros, quanto são as escoteiras, quantos Insígnias temos hoje? Como está a evasão? Quantos permanecem por mais de um ano no movimento? Quantos escotistas insígnias da Madeira saíram do movimento? Quantos estão na ativa, quais são as pesquisas realizadas para fazer um bom trabalho no futuro? É isto não acontece. Se aconteceu ele não sabe. Leu mas não viu nada do que procurava no relatório anual.  Você por certo não recebeu... Um ofício, ou uma resolução ou um...

Mas você foi informado mesmo? Não, você não decide, não vota, não participa das decisões.

       Finalizo dizendo que aqueles que não se lembram do passado, estão condenados a repeti-lo. Precisamos estudar o passado, só assim poderemos prognosticar o futuro.

Termino com uma Metáfora: A estrela verde. Quem sabe ela vai me trazer a paz que eu preciso para olhar o futuro e dizer: “Cada pessoa cria e modela o seu próprio destino, seu futuro será resultante de seus pensamentos presentes. As idéias assim como as sementes que se colocam no solo, acabam por germinar.” (Anônimo)

1.      Metáfora: A estrela verde

2.      Era uma vez… Milhões e milhões de estrelas no céu. Havia estrelas de todas as cores.: brancas, lilases, prateadas, douradas, vermelhas, azuis.
3.      Um dia, elas procuraram o Senhor Deus, Todo-Poderoso, o Senhor Deus do Universo e disseram-lhe:
4.      - “Senhor Deus, gostaríamos de viver na Terra, entre os homens”.
5.      - “Assim será feito”, respondeu Deus. “Conservarei todas vocês pequeninas, como são vistas, e podem descer a Terra”.
6.      Conta-se que naquela noite, houve uma linda chuva de estrelas. Algumas se aninharam nas torres das igrejas, outras foram brincar e correr com os vagalumes, no campo, outras misturaram-se aos brinquedos das crianças e a Terra ficou maravilhosamente iluminada. Porém, passado algum tempo, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar para o Céu, deixando a Terra escura e triste.
7.      - “Por que voltaram?” perguntou Deus, à medida que elas chegavam ao Céu.
8.      - “Senhor, não nos foi possível permanecer na Terra. Lá existe muita miséria, muita desgraça, muita fome, muita violência, muita guerra, muita maldade e muita doença”.
9.      E o Senhor lhes disse:
10.  - “Claro, o lugar real de vocês é aqui no Céu. A Terra é o lugar do transitório, daquilo que se passa, do ruim, daquele que cai, daquele que erra, daquele que morre, é onde nada é perfeito. Aqui no Céu, é o lugar da perfeição. O lugar onde tudo é imutável, onde tudo é eterno, onde nada padece”.
11.  Depois de chegarem todas as estrelas e conferindo o seu número, Deus falou de novo:
12.  - “Mas está faltando uma estrela. Perdeu-se no caminho?”
13.  Um anjo, que estava perto retrucou:
14.  - “Não, Senhor. Uma estrela resolveu ficar entre os homens. Ela descobriu que seu lugar é exatamente onde existe imperfeição, onde há limites, aonde as coisas não vão bem.”
15.  - “Mas que estrela é essa?” Voltou Deus a perguntar.
16.  - “Por coincidência, Senhor, era a única estrela dessa cor”.
17.  - “E qual é a cor dessa estrela?” insistiu Deus.
18.  E o anjo disse:
19.  - “A estrela é verde, Senhor. A estrela verde do sentimento de esperança”.
E quando então olharam para a Terra, a estrela não estava só.
A Terra estava novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no coração de cada pessoa. Porque o único sentimento que o homem tem e Deus não tem é a esperança. Deus já conhece o futuro, e a esperança é própria da natureza humana. Própria daquele que cai, daquele que erra, daquele que não é perfeito, daquele que ainda não sabe como será seu futuro.
(retirado da internet. Anônimo)