terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A ILUSÃO DOS ILUDIDOS


A ILUSÃO DOS ILUDIDOS

O que é a honra? Uma palavra. O que há nessa palavra honra? Vento.

                 É um assunto polêmico. Ninguém gosta de comentar. Eu não. Não tenho mais tempo para lisonjas, bajulações etc. Se não concordam comigo, paciência. Tenho um amigo no Orkut que vive me mandando recados. Ele não concorda com minhas opiniões do que escrevo aqui. Acha que estou no caminho errado. Diz que o escotismo é maravilhoso, está no caminho certo e as boas intenções dos dirigentes são as corretas. Completa dizendo que os dirigentes nacionais sabem o que fazem, que o escoteiro é obediente e disciplinado, enfim, envereda por um caminho que não discordo em parte, mas não concordo com tudo.

                  Este amigo é parecido com tantos outros, que dizem que amam o escotismo, tem ele no coração, vivem com ele em cada dia etc. etc. e etc. Até aí tudo bem. No entanto pensei que somos educadores e não amantes do escotismo. Vá lá que se sentir bem na organização, participar com alegria e amor é preponderante. Mas ficar com esta estigma não sei se concordo. Nós estamos no escotismo para colaborar com nossos jovens. Não substituí-los.

                 Como mudar escotistas assim? Nunca e nem é minha pretensão. Não posso mudar ninguém. Cada um é o que é. Acredita no que deve acreditar e faz o que achar correto. Isto significa que estamos no estado de direito - Democrático. (O estado de direito é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual cada um é submetido ao respeito do direito, do simples indivíduo até a potência pública. O estado de direito é assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos direitos fundamentais). Mas não venha me dizer que a Direção Nacional é democrática. Nunca foi e não é agora. Sua estrutura não permite isto.

                 Também não acredito no tal do saudosismo/tradicionalismo. Escotismo tradicional.  Deixe-me explicar melhor para não haver controvérsia. Tem muitos se arvorando no contexto. Falar é fácil, fazer é difícil. Quando vejo fotos que me mandam, daqueles tais tradicionalistas fico pensando se entenderam bem o termo. Claro, não vamos falar nos jovens. Nas fotos estão sempre sorrindo, fazendo saudações e em atividades próprias de militares. Não acredita? Procure averiguar. Rastejar na lama, pular na lama, luta na lama, rastejar no mato, não sei mais o que. Podem me condenar, mas isto não é escotismo tradicional. Isto é copia de exercícios militares.

                  Outros levam todo o grupo para um local aprazível, uma pequena floresta, ou um bosque, e lá desenvolvem atividade com todos. Lá estão lobinhos, escoteiros, seniores todos os membros do grupo. Fazem falsa baiana, escalada, uma infinidade de atividades, que se fossem desenvolvidas pelos monitores e feitas no sistema de patrulha seria ótimo e o caminho certo. Agora, e os uniformes? Ainda dizem que são tradicionais. Você vê cada jovem portando, até garbosamente aquele uniforme fantástico, copiado ou assimilado com as forças armadas ou policiais do estado. Vejo fotos de encontro nacionais e outro dia uma que estavam presentes a nata do escotismo. Deus do céu! Tinha uniforme de todos os tipos. Chapéu escoteiro, boné, uniforme caqui, cinza, tênis branco, vermelho, azul. Padrões de uniforme? “neca”, E ainda me dizem que somos um movimento uniformizado. Tudo isto em portadores da insígnia da Madeira em cursos avançados. Belo exemplo. 

                  Olhem, alguns amigos que não pertencem aos quadros da UEB me perdoem. Eles pelo menos são mais sinceros. Desligaram-se. Não concordaram com o caminho que trilhavam. Tentam se organizar e alguns até estão bem organizados. Montam seu adestramento, sua estrutura e aí partem para diversas situações que temos que aplaudir. Uniformes, sistema de patrulhas, curso de adestramento (não consigo dizer formação). Mas olhe, não morro de amor por eles. Aceito e espero que alcancem seus objetivos. Infelizmente ou felizmente ainda me sinto ligado a UEB onde nasci.

                  Ainda ontem, outro amigo meu, bem relacionado com a Direção Nacional, inclusive DCB ou formador (não sei se pronunciam assim), ou seja, três ou quatro tacos. (vocês me entendem), comentava comigo a nova postura e desenvolvimento das diversas etapas para se conseguir a Insígnia da Madeira. O acompanhamento, a tutoria, a visita em loco, entre outras normas, me mostraram certa auto-estima a formação de escotistas para ser no futuro endeusado e que poderão ter a honra de participar da Equipe e da reunião de Giwell, um privilégio de poucos. Pensei que o Portador da Insígnia estava devidamente preparado para colaborar numa sessão qualquer e não está subida ao Olimpo. (Cidade dos Deuses, devido à sua localização próxima à base do Monte Olimpo).

                   Dizia ele que quando atingiam certo nível, seus propostos sempre entram em contato, para dirimir dúvidas e recebem visitas surpresas, tudo no clima de “se preparem todos, chegou o chefão”. Não é para rir. É a verdade. (este escotista é dedicado, tem trabalhado incansavelmente para o desenvolvimento do escotismo no seu estado e no Brasil e por isto merece o meu mais profundo respeito e admiração). Ele mesmo comentou comigo sobre os “Deuses da UEB” e ficou abismado com a arrogância de alguns durante a realização do Congresso Nacional Escoteiro neste ano. (não sei é assim que se pronuncia). “Nada de novo no front”.

                  Tudo que ele disse não foi surpresa. Na minha vida pregressa, quantas e quantas vezes passei por isto, vendo pseudos Baden Powell (BP não era assim, era humilde, brincalhão não serve de exemplo) aqui e ali se pavoneando. Discordam? Claro, não existe unaminidade no Escotismo. E isto é bom, mostra porque somos um movimento democrático (?). Já recebi varias vezes, recados e ou e-mail de alguns, dizendo de sua alegria e surpresa por pertenceram a uma comissão ou serem promovidos no âmbito regional ou nacional. Agora ele também é importante. Vai decidir sobre o que deve ou não ser mudado.

                   Mas não posso discordar de maneira nenhuma que cada um tem direito a pensar o que quiser. Acreditar no que quiser e fazer o que sabe e o que aprendeu. Sempre digo para todos, palavra de BP – O importante são os resultados – Deu certo? Parabéns. Mas volto na mesma tecla. Já viu quantos saíram e entraram no seu Grupo Escoteiro este ano? Sua região tem um levantamento? A UEB teria? Se tem porque não mostram em seus relatórios?

                    Outro me garantiu que estão preocupados. Por isto estão mudando. Para que o jovem permaneça mais tempo. Assim foram embora a segunda classe e a primeira classe sem comentar sobre as eficiências seniores. Porque não adaptaram novo currículo a elas (eficiência, e classes) e continuaram com os mesmos nomes? Mudar o nome? Caramba! Se isto vai ajudar a manter (não crescer) os jovens pelo menos dois ou três anos no escotismo, tudo bem. Mas nada me convence que a mudança foi benéfica.

                    E assim vão mudando, mudando e esquecem que ainda tem alguns que não sabem interpretar os erros cometidos e que isto é importante na formação dos jovens e se está no caminho certo. Enterrem na curva do rio os últimos vestígios de uma tradição antiga (O Último dos Moicanos). Os distintivos, a palavra adestramento, a nomenclatura diretiva (lideres das diversas lideranças locais, regionais e nacionais). Para isto você (um privilegiado – poucos mesmos) foi nomeado. Agora você vai falar em nome de mais de dez mil adultos no movimento (ultimo censo – 2009).
 
                   Uma vez, dirigi um curso no interior de um estado brasileiro. Fiquei preocupado com tanta bajulação. Chamavam-me de Grande Chefe me olhavam com admiração e não tiravam mais os olhos dos meus barretes.  (por isso parei de usá-los e olhe, só tenho 1,74 de altura). Quando o curso terminou, convidei a todos para irmos a uma pizzaria, onde tomaríamos junto aquela chopada e alem de comer boas pizzas, iríamos cantar, falar, trocar idéias e fortalecer mais e mais a nossa amizade. Isto foi em 1974. Até hoje recebo carta de alguns (naquela época ainda não havia e-mail.). Sensacional! Repeti centenas de vezes em outros cursos.

                   Quando os dirigentes nacionais souberam disto, quiseram me chamar a atenção. Mandei todos eles plantar batatas. Outra vez foi quando dirigi um curso avançado, parte II (isto não existe mais), oito dias de campo. (sistema de patrulhas, elas cozinhavam para si, viviam junto, dormiam no mesmo campo de patrulha sob barracas, aprendiam um com o outro, técnicas escoteiras), recebiam por dia uma carga bem volumosa de conhecimentos técnicos e teóricos, onde o sistema de patrulhas era preponderante. A pedagogia agora é outra. (Pedagogia é a ciência da educação. Segundo LUAIZA,B.A a aplicação dos conhecimentos produzidos a partir das pesquisas científicas nesta área permitem o desenvolvimento da tecnologia pedagógica cujo objetivo é o desenvolvimento de serviços científico-técnicos que permitem a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica do próprio processo pedagógico, do processo educacional e do processo educativo.) É BP deve ter achado sensacional.

                   No penúltimo dia de curso, era tradição (não sei existe hoje), as patrulhas prepararem um jantar especial (elas escolhiam o cardápio e nós providenciávamos), onde cada uma convidava um ou dois escotistas de outra patrulha. Confraternização perfeita. Uma delas resolveu fazer uma comida típica do nordeste, e incluiu duas garrafas de cachaça. Eram adultos. Permiti. Beberam além do esperado. Cama para todo mundo. Amanhã levantar mais cedo para tirar o atraso da programação. Ficaram meio bêbados na porta da barraca, cantando e cantando, contando historias, rindo, aquelas risadas de bêbados que vocês conhecem. Achei maravilhoso. Que bela confraternização. (Claro, do ponto de vista do adulto) – Ixxi! Os beatos vão me sacrificar!

                    Os arrogantes da direção regional da época (sem generalizar, tem muita gente boa lá, agora e no passado) ficaram uma fera. Diziam para eu não aprovar vários deles. Sem papo. Aprovei e fiz questão de exigir quando terminaram a parte III o lenço e o certificado. Cheguei até a dar um ultimato. Não foi preciso. Fui ao grupo de cada um entregar. Lagrimas de alegria, de confraternização. Orgulhava-me de ser irmãos de todos eles. Ali estavam escotistas de primeira. Não aqueles frustrados que acham que somos um movimento piegas, e não gostamos de nossa cervejinha, uma pequena dose de um bom whisky Black Label 12 anos – Johnnie Walker. Claro, sem abusar. Somos humanos e a bebida com moderação longe dos jovens para não dar exemplo, não faz mal nenhum.

                     Isto me faz lembrar e dou um sorriso quando me lembro de um executivo profissional escoteiro, em um determinado estado brasileiro, que tinha seu salário por comissão (ótimo por sinal e motivo de inveja de muitos) do que conseguisse arrecadar, beleza, maravilha, se tivemos mais 100 deles teríamos sido outro movimento, mais forte e autêntico. Ele gostava de ter em sua sala na sede regional, a vista sem esconder uma boa garrafa do legítimo whisky escocês. Não viram seu valor, só seu defeito (nunca ninguém o viu embriagado). Não esqueço também suas excelentes qualidades técnicas, sua atuação como DCIM e seu orgulho pelo uniforme, viajou pelo pais dando centenas de cursos e auxiliando a todos que o procuravam. Se estivesse vivo para ver hoje, colocaria um saco na cabeça e iria esconder embaixo da cama. 

                     Hoje estou usando termos meios impróprios, mas fazer “firula” de Grande Chefe, nunca fez meu tipo. E não aceito isto de ninguém. Disse ontem para o meu amigo. Afinal onde anda o quarto artigo da lei? Onde anda a tal fraternidade? Julgam-se importantes? São humanos como nós. Alguns com conhecimentos que não temos, mas temos conhecimentos que eles não tem. Por isto é diminuta a entrega de Insígnias em todo Brasil.

                     Quando entrei pela primeira vez no site de relacionamento do Orkut, fiz convite a várias insígnias que lá pertenciam. Vocês precisam ver a pose, a escolha (não aceitavam qualquer um), a maioria aceitou, mas nunca em tempo algum me mandaram um olá, um Sempre Alerta! – Acreditam pertencer à casta dos privilegiados. Quando mando algum recado, não respondem. Poxa! Amigo, acorda! Somos irmãos escoteiros.
 
                     Continuar não vale a pena. Acho que foi um desabafo. Desafio a quem quer que seja, do mais humilde ao mais famoso Grupo Escoteiro em nosso pais, a dizer francamente que não tem evasão em seu grupo. Que a media de saída dos meninos que passam por lá, é superior a dois anos e meio. Que por isto as vagas são poucas e muitas são as inscrições em espera. Isto acontece com você? No Grupo que você colabora? (um chefe meu no passado dizia que não é meu grupo, minha tropa minha patrulha, meu monitor, se não comprou e pagou não é dono).

                      Mandem uma correspondência a UEB, se ela responder, o que duvido muito, perguntando como é a evasão no Brasil nos últimos dez anos. Quantos deixaram de se registrar e quantos novos registraram. Estou pagando para ver. Agora não me venham dizer que ficar dois ou oito meses é o suficiente. Suficiente é o número de Liz de Ouro e Escoteiros da Pátria que seu grupo tem por ano. Ou eles também fazem parte da casta de privilegiados?

                       Um dia, quando formos um movimento democrático, onde todos possam dar sua opinião, quando a arrogância dos dirigentes e de alguns portadores de insígnia e do endeusamento de Lideres formadores mudarem, então estaremos ainda engatinhando para que o escotismo possa ser reconhecido pelos nossos governantes, como uma importante contribuição da formação de nossos jovens na sociedade e que ele pode dar uma nova visão a honestidade, a honra, e o respeito que tanta falta faz nos homens públicos ou não que conduzem o nosso pais. Acho que seria bom se todos pudessem ver ou rever o filme “A sociedade dos poetas mortos”. Uma lição de vida para educadores.

                        Encerrando, sempre quis comentar sobre o tal de SAPS, vocês sabem o que significa, Sempre Alerta para Servir, mas acho que são iniciais pra preguiçoso. É mais fácil escrever assim do que um Sempre Alerta ou um abraço especial. Ou talvez um Melhor Possível e se for um pioneiro Servir. Mas já falei muitas “bobagens”. Que me desculpem todos.

Meu abraço cordial e SEMPRE ALERTA!  - abaixo o SAPS    
                   

SINTO VERGONHA DE MIM
Sinto vergonha de mim, por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade, e por ver este povo já chamado varonil, enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim, por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o ‘eu’ feliz a qualquer custo, buscando a tal ‘felicidade’ em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo!
‘De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto’.