domingo, 11 de dezembro de 2011

E QUEM SE IMPORTA?

Não permita que a dificuldade lhe abra porta ao desânimo porque a dificuldade é o meio de que a vida se vale para melhorar-nos em habilitação e resistência.

Largue qualquer sombra do passado ao chão do tempo, qual a árvore que lança de si as folhas mortas.
Não se detenha, diante da oportunidade de servir.

Chico Xavier

E QUEM SE IMPORTA? (uma continuação do artigo anterior)


Para nós, que conhecemos o Movimento Escoteiro, não existe outra organização tão perfeita, tão fantástica a ponto de entregarmos nossas vidas quase que exclusivamente à causa abraçada. É um vírus que nos domina, nos prende e quando temos o programa e a filosofia a invadir nossa mente, suas qualidades tão indiscutíveis, que muitas vezes fechamos os olhos a razão, deixamos de lado a prudência, aceitando tudo aquilo que nos orgulha sem perguntar se este é o caminho para o sucesso.


Isto é legítimo, mas é bom perguntar. E quem se preocupa com o futuro? Quer saber da verdade? Acho que poucos escotistas. Não está entendendo? Vais entender logo. Desde que comecei a pesquisar por conta própria este tema apenas uns poucos concordaram em parte.


Foram tantos artigos publicados comentando sobre o tema da “evasão” do nosso efetivo, que alem de alguns email ou leitores deste blog, tive a alegria de receber alguma resposta, poucas, a maioria evasiva. Para a maioria o Escotismo era um “céu de brigadeiro”, o encanto, a perfeição e a grandiosidade de um programa escoteiro sem similar.


Ninguém se importa. Quem sabe acham que sou repetitivo, vendo sombras onde existe luminosidade. Seria mais proveitoso se com a minha experiência falasse sobre jogos, novas idéias para as alcatéias, tropas, no lugar de criticar e assim estaria atendendo a um anseio geral. (são os artigos mais lidos do blog)


Teve uma época, lá pelos idos de 1968/1975, fui designado Comissário Regional (hoje o singular e espantoso Diretor Técnico ou Presidente Técnico – não sei bem) e tinha sido nomeado DCB (Diretor de Curso Básico – hoje também alterado). Viajava muito pelo interior do estado, e pude naquela época visitar quase 100% dos grupos existentes.


Dentre outras atividades regionais, levei para o interior, diversas Indabas distritais, Cursos Informativos, técnicos e reorganizações dos Conselhos Distritais alem de diversas atividades juvenis, hoje sobejamente conhecidas, mas praticamente inexistentes naquela época.


Nestas atividades colocava entre outros o tema da evasão de membros juvenis e adultos do Movimento Escoteiro. Observava que poucos estavam preocupados. Eu já sentia que nosso escotismo estava estagnado por diversas causas, e esta era uma das principais.


Evidente que na Direção Nacional assim como na Equipe Nacional de Adestramento (hoje também alterada) a preocupação existia, mas compreendida de outra forma. Achavam que se conseguíssemos formar ou adestrar os adultos adequadamente, levar a eles o verdadeiro sentido do Movimento Escoteiro, assim como seus princípios e métodos, à situação seria revertida.


Era óbvio. Uma parte considerável da solução, mas, cujos resultados não foram satisfatórios. Sem ofensa aos adestradores ou formadores. Afinal perdem dias e horas no trabalho voluntário e suas recompensas são aquém do que merecem.


Passaram-se 42 anos. Os números de cursos aplicados foram substanciais. Não tenho dados concretos, mas calculando uma média por baixo de 30 cursos por ano, (deve ter sido muito mais) com uma participação de no mínimo 20 alunos em cada, seriam 600 escotistas adestrados por ano. Pensando em termos de 1968 até hoje (sem levantar dados anteriores a esta data pelo menos 25.000 escotistas foram adestrados ou formados.


Quanto aos escotistas que conseguiram a IM nestes 42 anos, pergunto - Onde eles estão, se a maioria continua na ativa ou se pediram exoneração? Se foi feito qualquer planificação para motivá-los a voltar às fileiras ou mesmo se o efetivo aumentou ou diminuiu.


A equipe de Giwell sempre mostrou interessada e ali tem os escotistas melhores formados. No entanto só se reúne quando há atividade regional ou nacional, sem nenhum encargo e sem nenhum espaço nas decisões. Suas reuniões quando acontecem tem outra finalidade. Totalmente diversa de discussão de temas importantes e sim mais uma reunião de amigos.


Opinar? Só se o membro pertencer a algum órgão da UEB. Em vários artigos aqui publicados, coloquei em dúvida diversos temas e preocupa-me a falta de dados fornecidos pela UEB e as Regiões Escoteiras. Isto sempre foi comum. As informações não existem. Só aquelas que determinam situações ou normas.


Ainda quando regional, ao receber o registro do Grupo Escoteiro, fazíamos um comparativo com o ano anterior, se houve crescimento não só dos jovens quanto aos adultos, se o registro não foi feito, o porquê, e sempre oferecíamos a nossa colaboração. Se havia afastamento de escotistas procurávamos saber o motivo.


É importante notar que os meios de comunicações eram difíceis e hoje com a internet o contato direto por email tão utilizado, as correspondências ou comunicações chegam à questão de segundos ao destinatário. A extinção de um Grupo era para nós ponto de honra conhecer as causas os motivos e tentávamos ajudar de uma maneira ou de outra.


Não sei se estas situações acima comentadas são feitas pela UEB ou pelas Regiões Escoteiras. Se for dou a mão à palmatória, pois é um meio adequado para a solução de muitos problemas de crescimento. Com as facilidades tecnicológicas da informática, qualquer programa simples para os registros fornece dados na hora.


Quem sabe a UEB tem ou as Regiões possuem um Profissional Escoteiro, para visitar e ajudar aqueles que assim o precisam.. Saber o porquê da evasão naquele grupo ou distrito e/ou falta de registro, isto quando não acontece a extinção pura e simples.


Não tenho certeza, mas as maiorias das mudanças realizadas não foram feitas com padrões pré-estabelecido e bem analisadas. Surgiram por conceito de um ou mais dirigente, e dentro dos princípios de uma democracia formalizada pelas suas normas, escolheram um mais douto no assunto, com a matéria pronta e sem nenhum estudo anterior enviado aos interessados, e ali são discutidas de improviso e claro, a maioria vota a favor.


Quem participa sabe que ninguém ou senão uns poucos irão pedir resultados das mudanças efetuadas. Nunca vi alguém subir em uma tribuna e cobrar resultados. Pode ser que hoje isto acontece. Não sei. No passado isto era considerado oposição e não muito bem visto e era avaliado como desleal.


Afinal nas épocas de eleições só uma chapa se apresentava, e em alguns casos para completá-la era preciso convidar um aqui e ali, pois nem todos estariam dispostos a participarem, seja por falta de tempo ou pela distancia da sede nacional, e esta chapa era sempre aclamada por todos. Uma democracia interessante.

Não sei se assim atualmente. (hoje a sede regional fica em um extremo do território brasileiro, com grandes dificuldades de locomoção aos longínquos pontos do país.


Agora mesmo, recorri a alguns amigos meus que estão na ativa e participam ativamente do adestramento (formação) em suas áreas de atuação e vi que para eles o tema é interessante, mas o caminho para decidir é outro. Estão satisfeitos com o andar da “carruagem”, e sempre concordando com a maioria/minoria, pois somos um movimento disciplinado e afinal está é a democracia que escolheram. (não eu).


Fico então a conjeturar porque nestes 42 anos não acertaram? Já disse aqui em outro artigo, que quando fui Comissário Regional, tive em mãos alguns relatórios da UEB (o Escoteiro Chefe da época era meu amigo e mentor) e em alguns deles vi que o efetivo era de aproximadamente 30.000 membros registrados. Eu sabia que só no Estado que atuava havia mais de 30% de membros sem registros.


Tendo como base o relatório de 2000/2009 da UEB, pude constatar que em 40 anos praticamente estagnamos se não regredimos. Se considerarmos o aumento populacional e a participação feminina, declinamos consideravelmente.


Considerando que em 2009 tivemos 49 mil membros registrados, (ver o relatório da UEB) e considerando que deve ter ali pelo menos 15 mil participantes femininas, (são conjecturas e até pode ser muito mais) verificamos com tristeza que o número de membros masculinos praticamente se iguala com 1970!


E isto é preocupante, pois mostra que os jovens estão abandonando mais rápido o movimento, a procura vai se reduzindo e pelos poucos dados que tenho, são de que as jovens se mostram mais interessadas. Todos aplaudem o sistema atual e a co-educação, as tropas e alcatéias mistas já são realidade, mas será que é isto mesmo que os jovens querem? Se é onde está o erro? Afinal o programa escoteiro não é tão bom assim?


Uma mobilização nacional por parte da UEB acredito estar fora de questão. Não existe esta preocupação. Existe sim a preocupação das mudanças que desde 1992 estão sendo realizadas. Em todas elas não vi a apresentação dos resultados, e todos aqueles que conheço e estão na ativa também não foram informados sobre isto. O relatório é claro.


Se eles, os resultados existem, gostaria de saber, pois até agora só vejo o declínio e a continuar assim, ficaremos uns poucos como agora, pela perseverança, lealdade, pelo amor e pelas recordações. Claro, vai ser difícil. Quem sabe interpretar é só ver o relatório da UEB. Ali não dá para saber se houve ou não alguma pesquisa de resultados. E olhem torno a repetir, a atual direção e as anteriores foram pródigas em mudanças.


Poderiam me perguntar por que não discuto tudo isto em fórum próprio. Já disse. Sou voto vencido. Se não laborarmos um grande merchandising com todos os membros adultos, e se o assunto não for debatido em Indabas distritais e regionais e em fóruns criados com esta finalidade, é perda de tempo. Sem pesquisa de campo ou consulta as bases qualquer resultado será pífio.


Não é uma meia dúzia que vai dizer o certo e o errado. Determinar entre si o que fazer. Como disse podem até estarem certos. Infelizmente não tenho tantos anos como tive no passado para ver o resultado final.


Não vejo a necessidade de uma mudança radical na forma com que a UEB é constituída. Noto que se houvesse uma maior abertura, um maior contato com as bases (os Grupos Escoteiros), pois são eles a razão de ser dos demais órgãos, teríamos resultados mais expressivos.



Se um trabalho maior com as regiões fosse feito, visando uma integração com as bases, aí sim, poder-se-ia pensar em mudanças. Não da maneira com está sendo feita agora. Todos aqueles que pertencem a órgãos nacionais e regionais poderiam com humildade (o que falta em alguns) se aproximar mais, ouvir mais, e entender as razões de um e outro.


 Nunca vi em minha vida uma consulta dos órgãos escoteiros em assuntos importantes tais como o que a UEB modificou e prosseguiu mudando desde 1990. Foi nesta data que me retirei da ativa do Movimento Escoteiro. Fiquei exclusivamente no apoio, dando subsidio a quem me procurasse, não importando se fosse um Grupo
Escoteiro, uma Região ou a própria Direção Nacional, mas nunca procurado.


Com surpresa, vejo hoje em plena ação os movimentos escoteiros autônomos ou independentes. Estão caminhando a passos largos. Fazem um bom escotismo conforme BP idealizou em 1910. Ultrapassados? Não sei quem viver verá. Alguns dizem que eles conseguem atrair todos os descontentes.


Em uma época distante, desgostoso com os rumos que o escotismo estava caminhando, quase aceitei o convite de um grande amigo ex-dirigente regional e Insígnia para iniciar um movimento independente. Chegamos mesmo a criar nomes, mais na base da excentricidade do que a certeza de um resultado satisfatório. Não o fiz e como disse em outros artigos sou fiel ao meu passado e com a UEB mesmo errando não irei mudar de lado.


Não se pode desconhecer a existência do escotismo independente no Brasil. Acredito inclusive que seu numero cresce dia a dia. Seria ilusório duvidar. Claro que não os condeno, pois a maioria faz um bom escotismo, praticam suas atividades conforme pedem alguns grupos. Ali as tradições e atividades aventureiras e vida ao livre se mantêm.


Eles garantem ter despesas menores, taxas de registros menores, temas estes que são um chamariz para os descontentes e serão de difícil comparação com a UEB. Penso que se eles apareceram é porque houve o descontentamento de escotistas com os acontecimentos, das modificações, de virar a página com mudanças do Uniforme Tradicional, das classes e etapas mais técnicas, de nomes e conceitos importantes que deixaram de existir e da autocracia da UEB. Sem contar o valor da taxa de registro motivo maior.


Agora de quem é a culpa pela transformação, alterações havidas nos destinos do escotismo brasileiro que fez com que muitos abandonassem suas fileiras? É só percorrer as paginas da internet, principalmente nos sites de amizades, e de comunidades que se vê o descontentamento de um numero considerável de escotista e ali estes, os independentes encontram sua seara de arregimentação, da sua lide junto aos insatisfeitos e mostram com maestria as vantagens de sua organização.


Errado? Não posso desaprovar ou aprovar. Acho que a UEB é a maior culpada, pois não se manifesta nos locais apropriados, não mostra o porquê suas mudanças são fundamentais para o crescimento quantitativo e qualitativo e se isto vem acontecendo ao longo dos anos. A informação inexiste na sua forma mais objetiva.


Ela a UEB sabe do seu direito e evoca aqui e ali sua autoridade na direção do Movimento Escoteiro no Brasil, seja na parte filosófica ou de ordem jurídica e não dá mostras de mudanças que possam trazer o que todos esperam. Quem sabe uma volta às raízes, ou melhor, mais humildade.


Não tenho magnitudes excepcionais para mostrar o caminho exato para se acertar. Mas posso afirmar que o caminho escolhido é inglório. Os relatórios da UEB não mostram o que todos desejariam ver e o que se espera do movimento no futuro.



Só digo e repito, é preciso envolver as bases. Todas. De norte a sul, de leste a oeste. Claro, fugir das determinações no que diz o Regimento Interno, os Estatutos e até o POR. Seria hora de mudanças. Não as que aconteceram e estão acontecendo. Só assim vejo que iremos crescer dentro dos padrões esperados e fazer um só escotismo em todo o território nacional.


Da maneira que estamos, haverá como hoje, muitos jovens e escotistas que estão adentrando agora e que manterão a mesma disposição, a mesma alegria, a mesma obediência as normas e as leis escoteiras, pois desconhecem o que era no passado, os programas extintos e as tradições antigas para eles inexistem.


Quem sabe é o que estão pensando os dirigentes dos órgãos nacionais? Que possamos nós os antigos que sonhamos com um grande escotismo como preconizou BP, desaparecer com o tempo, para que os novos possam fazer o que eles os dirigentes pensam ser o certo. Pode até ser sensato. Uma idéia que muitos ainda não tiveram, mas não sei se acredito nisto.


Lembremos que as outras organizações paralelas ou independentes não estão hirtas. Elas estão em ação tentando ao seu modo, e até quem sabe no modo que BP nos ensinou, na batalha da arregimentação, na manutenção do legado trazido por ele, acreditando que o que foi extinto volta de maneira simples e que o sonho de muitos se firmam ali, nos seus atos e na sua fé de um escotismo melhor.


Este é um artigo polêmico. Como quase nunca recebo comentário ou mesmo email (elioso@terra.com.br) dos artigos anteriores, quem sabe posso receber agora. E claro, terei o maior prazer em discuti-los e se estiver errado dar a mão a palmatória.

Afinal já deixei a muito de vestir meu uniforme aos sábados para as reuniões. Hoje só o visto na imaginação, quando estou escrevendo, falando, pensando e sonhando com o escotismo, com a UEB participando, lendo, comentando e quem sabe quando partir partirei alegre, sabendo que possa ter deixado uma semente de duvida nos meus leitores.


O “Velho” personagem fictício que criei nas Historias que os Escoteiros não contaram em 1992 - htto://chefeosvaldo.blogspot.com, comenta sobre o tema nos fascículos 40, 41 e 42 - Expansão, Sonho ou Realidade? De uma maneira irônica (próprio da personagem) tudo que disse acima.


Ele faz e desfaz das idéias que na época eram apresentadas, cujos resultados não tiveram os efeitos esperados. Ali tem muitas verdades. Pode ate não ser a minha verdade, mas pelo menos tive a oportunidade de mostrar o que penso.


Creio que talvez não seja pelas idéias ali delineadas que teremos o caminho certo para o sucesso. Mas seria uma abertura para discussão do tema.


Não sei o alcance de minhas palavras. Quem sabe elas se perderão no tempo, como lágrimas na chuva e nada será modificado. Sempre foi assim e porque não o seria no futuro? A terra continuará girando e as idéias permaneceram as mesmas. Será uma pena. Se nos últimos 40 anos quando passei a me preocupar com o assunto e tivesse resultados satisfatórios, este artigo não existiria.


O passado e o legado de BP não podem ser esquecidos. Isto não trouxe benefícios. Nossa realidade é outra. Em vez de crescimento só tivemos decréscimo. Não sei se haverá mudanças e um futuro melhor para o escotismo. Quem viver verá.


Seja a UEB ou o Escotismo Independente que estão trabalhando para o que acreditam ser o escotismo verdadeiro, desejo sorte. Acredito que um ou outro poderá ter sucesso. Seja quem for vai dar o melhor de si para o Escotismo Nacional. Ainda torço pela UEB, mas ela precisa mudar.


Ainda acredito que todo jovem sonha uma vida de aventuras. De aprender com sua patrulha a viver ao ar livre, descendo e subindo em cordas, atravessando matas, rios e florestas, aprendendo a construir pontes simples ou não, a dormir sob as estrelas, colocar um chapéu de abas largas, e sair por aí imaginando, que também pode realizar o que os heróis do passado realizaram.


A modernidade como dizem alguns versados em pedagogia, e abalizados por outros tantos, não se aplica ao Escotismo. O que estão oferecendo está nas escolas, na internet e isto não é novidade para os jovens.


Se ele o jovem conhecesse o escotismo real de BP na sua metodologia, no seu programa como antes, iria desconhecer estas mutações, e seria quem sabe uma resposta dos que afoitos viram nestas mudanças a solução para todos os problemas do Movimento Escoteiro.

 Este artigo poderá não ser bem recebido por alguns escotistas que defendem a posição da UEB atual, mas estava na hora de falar mais francamente o que penso.

Que os leitores façam o juízo do certo e do errado. Mas não esqueçam, e os resultados? E quem se importa?

Sempre Alerta 
 
A gentileza deve ser examinada, não apenas por chave de ajuste nas relações humanas, mas igualmente em sua função protetora para aqueles que a cultivam.
Chico Xavier