segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CONVERSA AO PÉ DO FOGO - SEGUNDA

Há grandes homens que fazem todos os demais sentirem-se pequenos. Mas a verdadeira grandeza consiste em fazer com que todos se sintam grandes.
                
Conversa ao Pé do Fogo – segunda
O Movimento Escoteiro e suas taxas mensais e anuais

Freqüentemente, tenho visto Escotistas comentando sobre as taxas cobradas pelos órgãos nacionais.
Claro que um e outro têm razão e ao mesmo tempo me preocupo com isto, pois, os Grupos que pertencem não se prepararam adequadamente para enfrentar a cada ano esta exigência e que claro traz benefícios a todos. Tive a oportunidade de participar de um Grupo Escoteiro em área carente e nem por isto tivemos dificuldades em mantê-lo registrado. Claro, nos preparamos com antecedência sabendo como e quando fazer.
Mas entendo as razões de cada um, pode ser que uma taxa cobrada no sul, seja até razoável, mas o mesmo pode não ser aplicado no norte do país e até mesmo em pequenas cidades. A última vez em que vi os valores praticados, não achei muito elevada. Talvez a cobrança para completar os valores das regiões escoteiras acrescida da nacional, pode dar um valor maior do que seja possível para pagamento por parte do Grupo Escoteiro.
Alguém uma vez me disse e eu comprovei quando Fui Regional em um estado Brasileiro, (há muitos anos atrás) que muitos dos Grupos Escoteiros não faziam seu registro com todos os membros e alguns para terem o Certificado Anual, registravam uma ínfima parte do seu efetivo. Isto por falta de condição financeira. Não sei hoje se isto acontece, mas pelos comentários acho que um bom número de escoteiros não são registrados e com isto não temos uma pesquisa qualitativa e quantitativa para saber realmente como está o escotismo no Brasil. É claro que prejudica o nosso crescimento, pois não se pode planejar sem bases estatísticas reais.
Li, em uma norma da UEB que ela tem um sistema de desconto e até da isenção da cobrança, desde que o Grupo Escoteiro não tenha condições de pagamento ou mesmo individualmente. É questão de verificar se a burocracia pedida para este fim é razoável. Pode ser que não seja exeqüível, não sei. A UEB não costuma acreditar na palavra dada. Sem documentos comprovando, acho que nada feito.
Mas vejamos se cada grupo fizer uma boa programação anual pode ser sem sombra de dúvidas uma forma correta para pagar todas as taxas. Isto claro é função da Diretoria do Grupo, que faz ou devia fazer o planejamento anual e as prováveis fontes de renda.
Abaixo, informativo não muito sucinto sobre o que é e como angariar fundos para o Grupo Escoteiro e é claro tenho certeza muitas outras sugestões poderiam ser dadas pelos Escotistas.
Angariação de fundos
A angariação de fundos é a arte de conseguir os recursos financeiros que uma organização de utilidade pública necessita para efetuar o seu trabalho. Estes meios podem provir de fundações, corporações, organizações governamentais, sindicatos, associações de especialistas, organizações locais e pessoas particulares, ou também de fontes não ligadas aos patrocinadores, como a venda de artigos publicitários (postais, calendários, etc.), presentes, eventos para obtenção de donativos, leilões, tômbolas, loterias, páginas na Internet para donativos, colheitas, petições individuais, legados, donativos de condolência, colheitas na rua, etc. (muitas destas sugestões não são permitidas para o Grupo Escoteiro, portanto deve ser verificada junto ao órgão competente a sua realização)
Antes de iniciar a procura de possíveis fontes de financiamento, de solicitar apoio econômico, de redigir documentos peditórios ou de organizar eventos públicos, é muito importante saber onde se vai empregar este dinheiro, por exemplo, para pagamentos diversos de taxas ou manutenção, para a elaboração de um determinado folheto informativo, para o apoio de um determinado projeto, ou para compra de materiais necessários ao desenvolvimento do Grupo Escoteiro. Quando sabe quanto dinheiro vai ser necessário, poderá começar a procurar potenciais doadores, a organizar as tarefas administrativas, a redigir listas de contatos, etc.
É importante compreender que nenhum órgão pode sobreviver sem ter os meios necessários para isto. Qualquer um pode imaginar o que deve ser um orçamento anual para manutenção de um Escritório Nacional ou Regional. Seria importante que cada um deles tivesse fundos próprios, obtidos através de arrecadações programadas por bons Profissionais Escoteiros. Mas sabemos das dificuldades e quase sempre as autoridades políticas desconhecem e não se preocupam com o desenvolvimento do Movimento Escoteiro no Brasil. (artigos diversos já escrevi sobre isto)
Como sei que diversos escotistas financiam do próprio bolso muitas atividades e taxas em seu grupo, acredito que eles não estão no caminho certo. Isto só pode significar que existem falhas e se estas forem corrigidas, não haveria necessidade disto. Preocupa-me que os jovens participantes se acostumem sem sequer fazer seu esforço individual para suprir as necessidades individuais o que no futuro pode não dar bons resultados em sua educação. 
Lembro ainda que este tema de maneira diferente seja abordado nos artigos que estão anotados neste blog, sobre os país, sobre a Comissão Executiva (diretoria) e do Conselho de Chefes do Grupo. Uma nova leitura pode dar nova visão ao problema, pois a responsabilidade de diretoria é dar condições a um Grupo Escoteiro para que ele seja bem estruturado financeiramente e com isto trazer os dividendos esperados para a formação de todos os seus membros.
Acredito que as taxas devem ser pagas. Acredito também que é função da UEB e das Regiões informar e colaborar com o grupo dando os meios necessários para que ele o grupo possa fazer seu registro sem prejuízo de toda a organização escoteira.
Cabe, portanto as direções do escotismo nacional mostrar como e não somente exigir sem primeiro dar um passo importante que é mostrar de maneira clara e objetiva como obter os fundos que os Grupos Escoteiros precisam para sua sobrevivência.
Anônimo


Atividades anuais do Grupo Escoteiro

Tenho visto Grupos Escoteiros com uma ótima programação anual, cumprindo fielmente as atividades programadas, o que tem trazido ótimos benefícios aos seus membros.
Algumas delas se referem aos pais. Muitos insistem em convidá-los somente para falar sobre suas sessões, colocarem suas dificuldades, o que esperam deles, dos filhos, a falta de participação, enfim só reclamação o que claro, afugentam boa parte deles. Isto quando não é um Conselho de Grupo (outro nome hoje), onde poucos ou pouquíssimos comparecem, e sofrem com as explicações dos dirigentes, não entendendo nada do que se passa e muito preocupados no seu termino e irem para suas casas voltando a sua programação de fim de semana, que não era nada daquilo que encontraram no Grupo Escoteiro
Porque não atividades recreativas para eles? – Difícil? Impossível? Não. Claro que não.
O começo até que não será fácil. Principalmente se eles estão acostumados a serem convidados só para “lamúrias” e reclamações e poucos muito poucos ainda vão as sede escoteira.
Primeiro fazer um bom convite para uma atividade de lazer com os filhos, em um domingo, com uma boa programação escoteira, cada um leva seu “bornal” (maneira escoteira de dizer lanches para a família participante) em local aprazível, e claro, como se fosse uma grande atividade escoteira, com programa escoteiro. Vejamos:
(Não esquecer que o local deve comportar todo o efetivo convidado, com banheiros, aguada própria e se não tiver levar fogareiro para uso dos pais com filhos pequenos – Um sitio de um amigo ou mesmo nas grandes cidades tem locais que são alugados. Cuidado para que não seja marcado de ultima hora, pois estes locais só com reservas no início do ano – ir para o campo sem estes requisitos pode trazer problemas para alguns dos pais que não estão acostumados).
Muito importante que o local seja exclusivo para que os pais não se constranger com atividades típicas escoteiras que muitos se ressentem quando há pessoas nas proximidades que desconhecem o movimento escoteiro.
Partida da sede em comboio – Se conseguirem um ônibus para todos, (ratear entre os participantes) melhor, mas aceitar aqueles que quiserem ir de condução própria. No ônibus, é bom ter um bom animador para colocar os pais à vontade com canções e brincadeiras.
Chegada ao local, preparar cerimônia cívica (não se preocupem, eles vão gostar de participar) Formar em ferradura, (ensinar), convidar um pai ou avô com um filho ou filha lobinha para a bandeira, após cantar uma canção simples e o melhor, formar patrulhas, tantas quanto forem necessárias. Os filhos ficam juntos. Dar um tempo para escolha de nomes, grito (não vale os existentes nas tropas).
Muito importante – A atividade é recreativa, como se fosse uma atividade escoteira e de forma nenhuma deve ser dado explanações ou palestras sobre o movimento, pois isto iria inibir e perder o elo da alegria e criatividade.
Chamada geral e formação por patrulhas – exibição dos gritos e apresentação dos nomes das patrulhas. Logo a seguir um jogo simples (observar pais e outros da família com dificuldade para isto), parabenizar a patrulha vencedora, e claro o grito da campeã. (não se esquecer de uma palma escoteira)
 Obs. Ficam de fora aqueles que tem dificuldades de locomoção, ou mesmo que não queiram participar, mas estes últimos devem ser incentivados ao máximo. Deixar de fora boa parte pode ser sinal de fracasso no programa.
Bases – com 3 ou quatro escotistas, formar bases de adestramento tais como: base 1 – Dança de káa ou outra escolhida pela chefe da alcatéia, base 2 – adestramento de nós (máximo de 3, pois será feito um jogo), base 3 – Grande Uivo – o porquê, seu significado e treinamento – base 4 – sinais de pista (poucos, menos de 8).
Claro, lembrem-se do tempo, por isto tudo deve ser bem calculado. Logo após as bases, tempo livre para Almoço. (se possível aproximar bem as famílias, com troca de merendas, etc.). A Confraternização deve ser prioritária.
Não mais que uma hora e meia para isto. Logo em seguida um jogo, onde será cobrado das patrulhas também em base, o ensinado antes. Não se esquecer de ensinar as patrulhas no inicio como é feito as formaturas e chamadas por apito ou similar. Após formatura geral, vencedores e gritos de patrulha.
Para encerrar, lá pelas 16 h, tempo para cada patrulha se preparar para o Fogo de Conselho (explicar que cada uma deve treinar uma apresentação ou esquete, uma canção e palmas) obs. Se não puder acender um pequeno fogo no local, levar o “famigerado” lampião).
  
Durante hora e meia, fazer um pseudo fogo, com canções, apresentações por patrulha, palmas escoteiras, gritos, enfim tudo que um fogo de conselho requer.
Encerrar as 18 h em ponto e retorno, a chegada à sede não se esquecer dos agradecimentos e esperar contar com todos na próxima atividade.
Observações:
1 – Não espere presença maciça da primeira vez;
2 – Se possível manter os horários mesmo que haja reclamações (os pais não se dão por satisfeitos sem cumprirem todas as tarefas programadas).
3 – Sempre explicar a próxima atividade aos monitores (eles devem ser escolhidos pela patrulha durante sua formação e obrigatoriamente devem ser pais);
4 – Os grupos que realizam esta atividade uma ou duas vezes por ano, costumam ter uma tradição de manter ou eleger um novo monitor. As patrulhas sempre serão as mesmas (claro que a cada ano, muitos não estarão mais presentes e as patrulhas serão completadas com os novos participantes).
5 - Os resultados são sempre os melhores possíveis. Uma integração de todos com os destinos do grupo tem sido visto por aqueles que praticam tais atividades.
6 – Muitos com o tempo vão pedir mais e mais atividades destas durante o ano. Cuidado, a programação do grupo é extensa e pode não comportar tais solicitações.
7 – Para encerrar, conheci um Grupo Escoteiro que na sua primeira atividade teve a presença de pouco menos de 20 pais e com o tempo ela chegou a mais de 350 participantes, preocupando a chefia para desenvolver um programa com todos. Claro no inicio só foram os pais, mas com os convites em aberto, parentes de toda as classes se sentiram motivados a participarem.
Antes de encerrar, mais uma sugestão de atividade com pais (só para Grupos pequenos) com bons resultados, principalmente na parte de confraternização e até arregimentação de adultos:
- Convide alguns pais (se possível todos que costumam buscar os filhos antes e após as reuniões, nada de convite por escrito – no futuro qualquer pai que quiser comparecer é sempre bem-vindo) para se reunirem à noite (sábados, após a reunião) em casa de outro pai (previamente combinado e aceito por este), para um sábado escoteiro dançante, (ou outro nome a ser escolhido). Marque um horário para inicio e término. 
Todos deverão levar um refrigerante (dependendo da aceitação, pode-se aceitar levar bebidas tais como cerveja desde que aceita por todos) e salgados. Os escotistas do grupo também devem ser convidados, mas lobinhos, escoteiros, seniores e guia só acompanhados dos pais. Afinal o intuito é confraternizar adultos e trazê-los para as lides escoteiras.
O anfitrião só entra com as dependências de sua residência. Conheci grupos em que o benefício foi enorme para formação de suas diretorias, equipe de treinamento de especialidades, até mesmo a arregimentação de bons iniciantes como escotistas.
Compete ao Diretor Técnico (prefiro chefe do Grupo) fazer com que tudo funcione a contendo, indo sempre de roda em roda (não deixar somente poucos se misturando), manter acesa a alegria, trazer a baila assuntos do escotismo, esclarecimentos, tudo de uma maneira descontraída e agradável.
Ali não existe nenhuma atividade escoteira. Só bate papo, confraternização e é claro o assunto não vai deixar de ser o movimento escoteiro. 
Lembrar que muitos pais podem ter outros programas, assim agradecer a todos quando chegar ao termino do horário programado, conversar com eles sobre quem poderia ser o próximo anfitrião. O rodízio é sempre importante e não esquecer de convidar voluntários para colaborar na limpeza junto à anfitriã.
Bem, em outra oportunidade, falaremos mais deste e de outros temas interessantes.   
Boa atividade!
Felicidade,
sentimentos que transborda de bons fluídos,
que faz tudo ficar mais fácil,
mais compreensivo,
é uma chave para o sucesso.
Anônimo


  Lei Escoteira – A história do chefe Remo


Certa vez, há muito tempo atrás, fui convidado por um grupo escoteiro de uma pequena cidade do interior, para proferir uma palestra sobre os Valores do Escotismo na sociedade.
Era um Grupo simples, com um pequeno efetivo, mas vi ali um alegria e amizade que não se encontra facilmente aonde vou.
Durante a palestra, observei um chefe, que permaneceu encostado em uma parede, me olhando com olhos ávidos, prestando uma atenção canina, que fez com que me perdesse algumas vezes na continuidade da palestra.
Este chefe, aparentando uns 50 anos, tinha um aspecto não muito simpático, apesar de estar muito bem uniformizado, com o caqui tradicional (um pouco velho, mas limpo e bem passado) um chapéu de abas largas bem posto, meiões dentro dos padrões e o lenço impecavelmente bem dobrado. Mas seu semblante deixava a desejar. Sua boca parecia inchada e uma grande cicatriz pendia desde os olhos até o queixo.
Tinha uma maneira de andar meio estranha, braços abertos, meio curvado mas seu sorriso era contagiante.
Após a palestra, fui dar uma volta no pátio onde se realizava as reuniões, e vi ali um bom escotismo sendo praticado por uma alcatéia mista, duas tropas uma masculina e uma feminina e uma tropa sênior composta de uma só patrulha.
O chefe em questão estava em pé, observando o andamento das reuniões, sempre curvado, e esperando que alguém o chamasse. Estranhei que ele não participasse diretamente de alguma sessão.
O Chefe do Grupo que me acompanha então vendo minha curiosidade explicou:
- Apareceu aqui há uns 4 anos. Ficava sempre meio afastado, pois sabia que sua fisionomia assustava os jovens e também os adultos. Com o tempo ficamos acostumados a ele. Remo era o seu nome, o sobrenome ninguém sabia. O uniforme foi doado por um chefe que mudou desta cidade e acho que a doação (ele apareceu de surpresa uniformizado e aceitamos normalmente) foi como o descobrimento de uma grande pessoa. Sua alegria, mesmo com um sorriso torto, contagiava.
Sempre tivemos receio de convidá-lo para uma das sessões. Não fizemos sua promessa, achamos que não deveríamos. Os pais não o viam com bons olhos. Ele é um dos primeiros a chegar à sede, faz a limpeza com esmero, fica a porta esperando que alguns de nós peça alguma coisa, no inicio das reuniões sempre está pronto a colaborar com a chefia, buscando materiais, e limpando o pátio quando alguém joga algum ao chão.
Muitas vezes quando venho à noite à sede, o encontro sentado no meio fio, como, a saber, que eu viria. Entra comigo e enquanto faço minhas obrigações ou mesmo aguardo outros para alguma reunião, ele está a ler sem parar na pequena biblioteca escoteira que temos aqui no grupo. Claro que sempre dou um livro para ele levar para casa, ler e devolver. Ele sorri e me agradece muito.
Enfim, nos acostumamos com ele, como se acostuma com um ... Ele ia dizer cão amigo mas preferiu se calar.
O pouco que sabemos dele é que trabalha no moinho do português e mora em um pequeno quarto alugado num bairro afastado.
Achei interessante o fato. Para mim inusitado. Os anos se passaram e de novo voltei ao Grupo citado e agora não me lembro bem o porquê.
A primeira coisa que dei falta era do Chefe Remo. Vi com espanto lagrimas nos olhos do chefe do grupo e a tristeza nos demais.
- Ele desapareceu um dia da sede e não voltou mais. Sentimos uma grande falta. Não tínhamos mais aquele que limpava, que ficava a nossa disposição, o nosso faz tudo como um servo sem salário, nunca reclamava, estava sempre pronto a ajudar e então chegamos à conclusão que não demos o valor necessário ao um grande homem, a um grande Escotista.
Todos, sem exceções sempre esperavam chegar à sede e encontrá-lo ali, subserviente, pronto a ajudar e nunca esperando nada em troca.  Até mesmo os jovens perguntavam por ele.
Na semana seguinte fomos ao moinho e ficamos sabendo que ele desapareceu também de lá. Seu Manuel dono do moinho foi com a policia ao quarto dele e nada encontrou. Convidou-nos a ir até lá para vermos como era e meu amigo, foi uma punhalada no coração, pois o quarto dele ela uma linda sede escoteira, com um quadro enorme de BP, quadro de nós, de sinais, bandeirolas de semáforas penduradas na parede, uma colcha bordada com flor de Liz jazia em sua cama e uma linda Bíblia aberta na pagina onde se lia o salmo. Ficamos chocados com tudo. Nunca esperávamos isto.
 Seu quarto era muito limpo e bem arrumado. Não havia cartas, nenhuma lembrança de quem era, de onde veio e para onde foi.
Ficamos sabendo meses mais tarde que ele tinha sido atropelado em uma cidade próxima, e imprensado a um poste tinha morrido na hora. Mesmo com sua identidade não souberam de onde era e de onde vinha. O enterraram como indigente.
Foi um choque para todos nós. Não sei porque, se foi uma boa idéia, mas reunimos todo o grupo e um dia de domingo à tarde fomos até a cidade e lá no cemitério , nos reunimos em volta de sua sepultura simples, fizemos uma oração a cadeia da fraternidade e cantamos, todos chorando, engasgados dizendo com dificuldade que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus, pois bem cedo junto ao fogo, tornaríamos a nos ver.
Ali, com os olhos marejados de lágrimas, vimos uma borboleta sozinha, passeando em seu tumulo, e enquanto permanecemos ela também permaneceu. Não digo que seria um sinal, nada disto, eu mesmo não acredito. Mas o chefe Remo merecia ter tido muito mais de nós. Pelo menos sua promessa.
Voltamos tristes, não havia canções, as lembranças pululavam no rosto de cada um. Agora sabíamos que tínhamos conhecido um grande escoteiro, um grande chefe mas só demos o valor quando ele se foi.
Não houve medalhas, não houve certificados de gratidão, nem mesmo aperto de mão. Só mesmo a lembrança que nunca mas nunca mais vai ser esquecida em nosso grupo escoteiro.
Voltei para casa meditando. Era um Escotista cumpridor de seus deveres. Não almejava nada. Fazia seu trabalho sem recompensas. Era o lixeiro, o carregador, o faz tudo o apanhador de sonhos pois o seu desejo era sem sombra de duvida, participar com os jovens, acampando, sorrindo com eles e cantar canções mil. Vi ali então que a Lei do Escoteiro também é a lei do Chefe Escoteiro.
Nunca mais voltei lá. Não porque não quis, não houve oportunidade. Mas o chefe Remo ficou marcado para sempre em minha memória.

Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.
(Amado Nervo)